Título: Valério movimentou R$ 100 milhões no Banco de Brasília em 2 anos
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/07/2005, Nacional, p. A7

O Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf) e o Banco Central descobriram indícios de um novo braço financeiro do esquema do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de operar o mensalão. Ele fica num prédio a apenas dois quilômetros da Esplanada dos Ministérios, onde está uma das maiores agências do Banco de Brasília (BRB). A suspeita dos técnicos recai sobre as milionárias movimentações financeiras da conta da SMPB (uma das empresas de Valério) nessa agência. O Coaf reúne indícios de que a conta serviria como uma das "lavanderias" do dinheiro movimentado pelo publicitário. Nos últimos dois anos, passaram por lá cerca de R$ 100 milhões.

O que chamou a atenção dos técnicos é a movimentação da conta, considerada no mínimo "atípica". Mas a desconfiança dos técnicos não se deve apenas ao montante movimentado. O problema está no comportamento da conta. Segundo observou o Coaf, o dinheiro costuma ficar pouco tempo parado. Não porque seja investido: a SMPB mantém os recursos na conta corrente. O BC estranha que, ao contrário da maioria dos clientes, Valério não aplica o dinheiro creditado no BRB.

A saída dos recursos depositados na conta tem sido constante e, em alguns momentos, frenética. O dinheiro costuma sair por meio de transferências eletrônicas, e não por saques na boca do caixa, como na conta da SMPB no Banco Rural. Na semana passada, por exemplo, somente no período de uma manhã foram feitas oito transferências eletrônicas, todas para pessoas e empresas diferentes. Essas movimentações são feitas via TED (Transferência Eletrônica Direta) e caem instantaneamente na conta do beneficiado.

Na maioria dos casos, os valores das transferências são altos. Variam de R$ 80 mil a R$ 120 mil, embora também haja retiradas menores, de R$ 20 mil. Nos últimos três meses, Valério movimentou R$ 38 milhões na conta.

CONTA-ÔNIBUS

Com tanto dinheiro entrando e saindo do banco, a SMPB tornou-se uma das maiores clientes do BRB. É a conta mais polpuda da agência localizada no Setor de Rádio e TV Sul, em Brasília.

O grande e suspeito giro de recursos na conta do BRB despertou a atenção do deputado distrital Augusto Carvalho (PPS). "Está evidente que essa é uma 'conta-ônibus' e se transformou numa enorme lavanderia, como fica claro pela movimentação", afirma. "A CPI precisa pedir esses documentos com a máxima urgência."

A SMPB tem as contas de publicidade do governo do Distrito Federal e da Câmara Legislativa de Brasília. O Ministério Público do Distrito Federal move processo contra Valério por supostos desvios de recursos nas verbas desses contratos. O Estado procurou o BRB e a SMPB para comentarem as informações, mas não recebeu retorno de ambos.