Título: Petista exibe estrela na lapela e 'riso de Stalin'
Autor: Eugênia Lopes e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/07/2005, Nacional, p. A8

Com uma estrela do PT na lapela, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares exibiu em vários momentos do depoimento à CPI dos Correios um sorriso que irritou deputados e senadores. "Vossa Senhoria está sendo massacrada e sorri", queixou-se o senador Saturnino Braga (PT-RJ). "Diz-se que Stalin sorria quando era torturado pela polícia czarista", completou. Enquanto ouvia a reclamação, Delúbio adotou uma expressão de serena seriedade. Numa única oportunidade, o ex-tesoureiro tomou de forma explícita a atitude desafiadora apenas sugerida pelo sorriso. Diante do acúmulo de indagações dos parlamentares sobre empréstimos irregulares para o PT e sobre caixa 2 para a campanha eleitoral do PT, Delúbio comentou: "Na CPI dos Correios, só recebi duas perguntas sobre os Correios."

Ao falar, o ex-tesoureiro tinha a dicção mais arrastada e confusa do que o usual, levantando a suspeita de que tivesse tomado tranqüilizantes antes da sessão. O deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) foi direto ao ponto: "O senhor tomou algum medicamento?" A resposta foi seca: "Não, deputado."

REPREENSÃO

Delúbio consultava o advogado Arnaldo Malheiros sempre que se via diante de uma pergunta inesperada, a ponto de ser repreendido por integrantes da CPI. O mesmo Faria de Sá perguntou-lhe sobre o excesso de cautela: "Por que pediu habeas-corpus?". O ex-tesoureiro deu uma resposta evasiva: "Foi estratégia dos advogados, é a legislação brasileira. A CPI tem o direito de me convocar e eu tenho o direito de ir ao Supremo."

Quando, mais uma vez, foi questionado, então pelo senador Demóstenes Torres (PSDB-GO), sobre o destino dos recursos obtidos com os empréstimos feitos por Marcos Valério para o PT, Delúbio respondeu: "A quebra do sigilo dos bancos vai revelar. Vocês é que têm a informação do sigilo, eu não tenho." Uma das várias vezes em que Delúbio pediu socorro ao advogado foi diante da pergunta de Demóstenes se ele achava que a Polícia Federal deveria agir nos partidos que cometeram crimes tributários, como acontece com as empresas. Depois da consulta, a resposta: "Não vou responder, senador."

O ex-tesoureiro teve alguns poucos momentos de ironia. Perguntado sobre a dificuldade do PT para pagar os empréstimos feitos pelas agências publicitárias do empresário Marcos Valério, reagiu sorrindo: "Estou diante de um grande problema que preciso resolver o mais rápido possível. Vou ter que encontrar uma forma de resolver essa questão." Ao citar a dupla de embolada Caju e Castanha entre os artistas contratados por ele para animar a campanha do PT, Delúbio provocou risos na platéia. E riu também: "É uma dupla que existe e faz muito sucesso, o que eu posso fazer?"