Título: Heloisa ataca Delúbio e tenta incriminar Lula
Autor: Eugênia Lopes e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/07/2005, Nacional, p. A9

Sem esperança de que Delúbio Soares fugisse da estratégia de preservar outros dirigentes do PT e, principalmente, integrantes do governo, a oposição aproveitou mais do que nunca os 15 minutos destinados a cada parlamentar durante o depoimento do ex-tesoureiro à CPI dos Correios para apontar as responsabilidades do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O primeiro ataque partiu da senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) - expulsa do PT em dezembro de 2003 com a concordância de Delúbio, como ela lembrou. "Você era o homem todo-poderoso do Lula. Vocês não me deixaram ser candidata ao governo de Alagoas em 2002, graças a Deus! Não acredito que você agiu sozinho, sem a autorização prévia da cúpula palaciana e do presidente Lula. Impossível que você tenha convencido o Marcos Valério a se endividar e não ter nada em troca", disse a senadora. "Não assuma a culpa sozinho! Muitos vão lhe deixar só." Embora tenha dito a Delúbio que preferia ser chamada de você, Heloísa Helena foi chamada de "senhora senadora" pelo ex-companheiro de partido. "A senhora é senadora e eu sou depoente. Batalhei muito na minha vida. Em 1998, trabalhei inclusive pela sua eleição, que me orgulhou muito", disse Delúbio. Ouviu um comentário impiedoso da senadora: "O PT ajudou mesmo minha campanha, espero que não tenha sido com dinheiro roubado." Delúbio olhou para o advogado e fez de conta que não ouviu.

O integrante da CPI, senador Álvaro Dias (PSDB-PR), chegou a citar um empréstimo feito pelo PT, sem cobrança de juros, ao presidente Lula, no início de 2003, no valor de R$ 29,436 mil. Também o ex-ministro José Dirceu recebeu empréstimo do partido nas mesmas condições, no valor de R$ 14 mil. Os valores foram pagos este ano. "O senhor diz que nunca tratou de finanças com o presidente e com Dirceu. Mas tratou, sim, quando ofereceu este empréstimo a eles, pelo menos. Para mim, foi uso indevido do Fundo Partidário", afirmou.

O senador tucano também citou a medida provisória do governo que deu, durante três meses, exclusividade ao BMG como detentor das contas de "25 milhões de aposentados do Brasil, movimentando mais de R$ 1 bilhão". Delúbio tinha dito que o PT não pagou o empréstimo de R$ 2,4 milhões feito no BMG. O empréstimo foi legal e registrado nas contas partidárias. "O PT pagou, sim, ao BMG, com a MP assinada pelo presidente. É favorecimento ilícito, crime contra a administração pública", denunciou o senador.

O senador César Borges (PFL-BA) disse que "há um misto de asco e nojo na população, enganada pelo PT". A entrevista dada por Lula sexta-feira, na França, em que falava a mesma versão de caixa 2 do partido apresentada por Delúbio e Marcos Valério também foi alvo da oposição. "O presidente foi partícipe desta farsa", atacou o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).

Discreto num canto reservado a parlamentares, o avô do deputado, senador Antonio Carlos Magalhães, assistia ao depoimento e à pressão sobre o ex-tesoureiro com uma ponta de prazer. "Ele falou mal de mim lá em Goiás. Agora está aí." Quando saía, encontrou o senador tucano Tasso Jereissati (CE), outro desafeto de Delúbio. "Ele me processou no STF. Vim olhar no olho dele", disse Tasso. ACM aprovou: "Vá lá ver. É um cínico e ainda por cima abusado."