Título: Presidente pede que Tarso fique à frente do partido
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/07/2005, Nacional, p. A13
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem ao ministro da Educação, Tarso Genro, que continue à frente do PT. O diálogo entre os dois ocorreu durante o vôo de Brasília a Recife, onde Lula lançou o Programa Nacional de Inclusão de Jovens. Tarso deu sinais de que, mesmo com resistências internas, deverá ser o candidato do Campo Majoritário ao comando do PT, no lugar de José Genoino, que renunciou em meio à crise do mensalão. Na conversa com Tarso, Lula disse que não quis ofender o partido quando afirmou, numa entrevista em Paris, que os melhores quadros petistas tinham migrado para o governo. O presidente acha, porém, que o PT está "muito fragilizado". Mais: na sua opinião, a cúpula precisa agir rápido para impedir que o partido afunde.
Na noite de ontem, Tarso conversou com o ex-chefe da Casa Civil, deputado José Dirceu (SP). O objetivo do tête-à-tête foi aparar as arestas. Apesar da negativa oficial, Dirceu tentou emplacar outro nome do Campo Majoritário para disputar a presidência do PT em setembro - quando haverá eleição direta, com voto dos filiados, para a escolha do sucessor de Genoino.
Presidente do PT de 1995 a 2002, Dirceu não engoliu o fato de Tarso querer fazer "uma devassa" nas contas do partido, incentivando a queda-de-braço entre "éticos e não éticos". O secretário-geral do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), garantiu que não vai entrar nessa briga. "Sou candidato a apoiar Tarso", comentou. Até ontem, porém, dirigentes do grupo moderado ainda defendiam outra candidatura.
Em conversas reservadas, Berzoini chegou a dizer que só aceitaria concorrer se Tarso recusasse a tarefa e houvesse acordo mais amplo de composição da executiva. Em público, pregou a expulsão do ex-tesoureiro Delúbio Soares e do ex-secretário-geral Silvio Pereira. "O que houve no PT foi gestão temerária", diagnosticou, repetindo palavras de Tarso.
Na semana passada, Delúbio afirmou que não queria ver Tarso como presidente. Sua preferência recaía sobre Berzoini. Amigos do ex-ministro do Trabalho contaram ao Estado que ele suspeita de articulação paralela para torná-lo uma espécie de "refém" do grupo de Dirceu e Delúbio. Traduzindo: uma ala do Campo Majoritário tentaria emplacar seu nome na presidência do PT para fazer dele uma 'rainha da Inglaterra'. "Só que ele não tem perfil para isso", garantiu um companheiro de Berzoini. "Estamos constatando que, apesar do profundo desgaste, os métodos do Campo Majoritário continuam os mesmos e vão na contramão do diálogo defendido por Tarso", protestou o deputado Chico Alencar (PT-RJ), da ala rebelde.