Título: Estrangeiros cautelosos recomendam pé no freio
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/07/2005, Economia & Negócios, p. B1,3

NOVA YORK - A crise política no Brasil está, de fato, esquentando com o desenrolar dos trabalhos das CPIs, mas a piora no ambiente externo nas últimas semanas tornou os investidores estrangeiros mais sensíveis ao barulho político. Esse é o sentimento dos gestores de fundos dedicados a mercados emergentes consultados pelo Estado. Esses gestores, que servem de termômetro do humor dos investidores, estão atentos aos recentes relatórios de pesquisas de bancos de investimentos em Wall Street e Londres, muitos dos quais citam, entre as causas, a crise política como um dos fatores para recomendar aos clientes (justamente os gestores de fundos e de carteiras individuais) a redução na exposição ao Brasil. É preciso ressaltar, contudo, que enquanto os estrategistas de dívida tornaram-se mais pessimistas e reduziram a exposição aos papéis brasileiros, os de ações ainda mantêm uma visão mais otimista quanto às perspectivas para a Bolsa brasileira.

"As perspectivas para os mercados emergentes ficaram mais nebulosas depois do depoimento de Alan Greenspan (presidente do Fed) e, em menor grau, da mudança cambial na China. A expectativa de juros mais elevados nos EUA e de aumento de incertezas no mercado mundial afetam o apetite para risco. Assim, como a liquidez global deve reduzir-se, os investidores estrangeiros não vão mais ignorar a crise política no Brasil, como vinham fazendo", disse o gestor de Fundos de Emergentes da Standish Mellon Asset Management, John Peta. Ele é responsável pela alocação de US$ 800 milhões em títulos da dívida de emergentes. Em sua carteira, a alocação do Brasil passou a ser neutra há três semanas, quando as condições para mercados emergentes começaram a se deteriorar.

"Apesar do sentimento de que a crise política deverá agravar-se, os investidores estão vendo a crise quase como um pretexto para reduzir a exposição ao Brasil. Mas o pano de fundo é que as condições de liquidez já não são tão mais favoráveis para os mercados emergentes em geral", disse Peta.

Na opinião do gestor de Fundos de Dívida para Mercados Emergentes da WestAm, Nicholas Field, a deterioração no ambiente externo para os emergentes como um todo, com as perspectivas de que o Fed aperte a política monetária mais do que o esperado, está fazendo com que a crise política chame a atenção dos investidores. Ele administra US$ 775 milhões num fundo de títulos onde mantém o Brasil com uma exposição abaixo da média há dois meses. "Isso porque nossa visão de longo prazo para o Brasil não é positiva, devido ao impacto da apreciação do real e das implicações da crise política", disse Field. "Não haverá melhora substancial no desempenho econômico acima do que já estamos vendo. Além disso, como o sentimento é de que a crise política deverá aprofundar-se, os investidores começam a pensar em reduzir suas posições no País.

Ao contrário dos gestores de fundos dedicados à dívida, os gestores de fundos de ações para mercados emergentes estão mais otimistas. "Da mesma forma que os gestores de dívida, também estamos preocupados com a crise política, mas por enquanto, não acreditamos que a política macroeconômica será afetada, nem que o presidente Lula será diretamente envolvido", afirmou o gestor de Fundos de Ações para Mercados Emergentes da Baring Asset Management, Urban Larson.

Ele ainda mantém uma exposição acima da média para a Bovespa no seu fundo, que tem um patrimônio de US$ 1,5 bilhão. Larson está dando preferência para as ações de empresas brasileiras voltadas para o mercado doméstico.