Título: 'O nome disso não é política, é polícia', diz Alckmin
Autor: Rita Tavares e Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/07/2005, Nacional, p. A15

O governador Geraldo Alckmin qualificou ontem de "inadmissível" a afirmação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que os partidos brasileiros recorrem "sistematicamente" ao recurso do caixa 2 para o financiamento de campanhas eleitorais. "É uma generalização totalmente irresponsável", disse Alckmin, referindo-se à declaração de Lula à TV francesa e reproduzida pelo Fantástico. Alckmin condenou os esforços do PT e do governo para reduzir a atual crise política a um escândalo eleitoral, de dinheiro de campanha não declarado. Para ele já existem provas de que se trata de crime de corrupção, que precisa ser apurado: "No início tínhamos apenas a palavra do deputado Roberto Jefferson. Depois passamos a ter indícios. E finalmente hoje existe a comprovação de desvios. É grave porque não é um fato isolado, pontual. Isso perpassa empresas estatais, órgãos do governo, ministérios."

O governador também disse ao Estado que considera "pouco verossímil" a linha de defesa adotada pelo ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e pelo empresário Marcos Valério de Souza, que insiste em reduzir o escândalo ao caixa 2 do PT: "Há uma tentativa de se colocar tudo isto que estamos vendo como se fosse um problema eleitoral. Mas não é. Não tem eleição neste ano e tem desvio de dinheiro público. O nome disso é corrupção. Não é política. É polícia."

Segundo Alckmin, o fato de o PT ter caixa 2 não significa que todos os partidos façam o mesmo: "Não se deve medir os outros pela regra do PT. Discordo totalmente disso."

PERDA DE CREDIBILIDADE

Ao comentar os resultados da recente pesquisa do Ibope, segundo a qual a popularidade do presidente da República continua alta, apesar da crise política, o governador destacou o fato de 42% dos entrevistados acreditarem no envolvimento de Lula: "As pesquisas deveriam preocupar o governo, pois do ponto de vista qualitativo houve uma piora. Quase metade da população já acha que o governo está totalmente envolvido. É uma perda de credibilidade muito grande."

Em suas declarações, o governador tucano mostrou-se cauteloso nos comentários sobre a possibilidade de os escândalos atingirem a figura do presidente: "Eu não colocaria isso agora. Não me parece razoável. O que deve fazer é buscar a verdade e a justiça e estabelecer punições. A CPI, o Ministério Público e a polícia devem trabalhar em conjunto."

Assegurou que o seu partido não pretende por na rua nenhuma campanha semelhante às que o PT fez no passado, quando gritavam "fora FHC", mas pretende ir até o fim nas investigações: "Não vamos confundir responsabilidade com impunidade. O fundamental hoje é investigar. O PSDB tem agido com responsabilidade, sem abrir mão da investigação."

A CPI tem trabalhado corretamente, na avaliação do governador, e os caminhos abertos até agora são promissores: "Todos os indícios para uma boa investigação já estão colocados. Nunca se iniciou uma CPI com tantos ingredientes para se fazer um bom trabalho."

O governo federal, sugeriu Alckmin, deveria facilitar as investigações e evitar tentativas de abafar o escândalo. "O governo foi atropelado pelos fatos e agora tenta surfar na crise, às vezes meio desorientado", disse. "Ele que não queira fazer operações de abafa. Não é isso que a sociedade espera."