Título: Testemunhas se contradizem no caso Santo André
Autor: Iuri Pitta
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/07/2005, Nacional, p. P T

Sombra alegou ter sido remunerado por serviços de segurança, mas empresários não confirmaram essa versão

As contradições entre os depoimentos de quatro dos seis acusados de participarem de um esquema de cobrança de propina em Santo André, na Grande São Paulo, durante a gestão do prefeito Celso Daniel, seqüestrado e assassinado em 2002, chamaram a atenção dos promotores do Grupo de Atuação Especial Regional para Prevenção e Repressão ao Crime Organizado (Gaerco). Os interrogatórios, que duraram cerca de dez horas, foram feitos na sexta-feira, na 1.ª Vara Criminal de Santo André. Outros dois réus da ação já têm data para ser ouvidos: 19 de agosto. O empresário Sérgio Gomes da Silva, amigo de Celso Daniel e conhecido como Sombra, foi o primeiro a depor. Por várias vezes, ele se recusou a responder a perguntas dos promotores Amaro José Thomé Filho e Roberto Wider Filho. Questionado pelo juiz da 1.ª Vara, André Scavone, negou a existência do esquema de propina.

"Ele alegou ao juiz ter sido remunerado por serviços de segurança, mas nem o Humberto (Tarcísio de Castro, empresário) nem o Ronan (Maria Pinto, empresário) confirmaram essa versão. Os dois negaram ter feito os pagamentos a Sérgio", contou Thomé Filho. "Chamou nossa atenção essa contradição entre os envolvidos."

A ação criminal foi reaberta em março, por decisão do juiz Iasin Issa Ahmed, e inclui seis réus. Completam a lista de acusados Klinger Luiz de Oliveira Souza, ex-secretário e ex-vereador pelo PT em Santo André, e os empresários Irineu Nicolino Martin Bianco e Luiz Marcondes de Freitas Júnior. Klinger também foi ouvido na sexta-feira pelo Ministério Público, e negou a existência do esquema de propina. Os dois últimos empresários prestam depoimento ao Gaerco no dia 19 de agosto.

A denúncia de esquema de cobrança de propina no setor de transporte público de Santo André foi feita pela família Gabrilli, que teria sido vítima de extorsão. Segundo o MP, a família Gabrilli controla uma empresa de ônibus que teria sido obrigada a contribuir com R$ 2 milhões para se manter no negócio.

As acusações foram reforçadas pelo irmão do prefeito assassinado, o médico João Francisco Daniel. Segundo ele, os recursos arrecadados em Santo André serviriam para o financiamento de campanhas eleitorais do PT. "Há semelhanças entre esse e outros casos que estão sendo investigados", disse o promotor Thomé Filho.