Título: Coincidências apontam ligações além do caixa 2
Autor: Sérgio Gobetti e Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2005, Nacional, p. A4

LICITAÇÕES E EMPRÉSTIMOS: No mesmo dia em que obteve um dos empréstimos do Banco Rural que podem ter beneficiado o PT, o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza fechou um contrato de publicidade com o Banco do Brasil. A concorrência vencida pela DNA Propaganda, com prazo de 23 de setembro de 2004 a 23 de setembro de 2005, renderia R$ 4 milhões. O empréstimo oferecido pelo Rural, também em 23 de setembro de 2004, foi de R$ 5,2 milhões. As coincidências entre licitações vencidas por Valério e as operações bancárias reforçam cada vez mais as suspeitas da CPI dos Correios de que as relações da cúpula petista com o publicitário vão além de um mero esquema de caixa 2. Até agora, os parlamentares já localizaram outros cinco empréstimos feitos por Valério no Rural e no BMG, num total de R$ 69 milhões, que tiveram como aval contratos com o governo. Pelo menos um deles, entretanto, serviu para quitar outro, o que reduz o total da dívida a R$ 55 milhões, sem correção. O primeiro dos empréstimos feitos por Valério para beneficiar o PT ocorreu em fevereiro de 2003, apenas um mês depois da posse do presidente Lula. O BMG cedeu a Valério a quantia de R$ 12 milhões, tendo como garantia um contrato da SMPB, agência do publicitário, com a Eletronorte. Em setembro, foi a vez de o Rural emprestar R$ 18,3 milhões à SMPB. Em janeiro de 2004, Valério contraiu um novo empréstimo no BMG para quitar a primeira dívida: desta vez foram R$ 15,7 milhões lastreados no contrato de publicidade com os Correios. Em abril, foi a Graffiti, outra empresa de Valério, que entrou em campo para obter R$ 9,9 milhões do Rural. Por fim, em julho de 2004, a SMPB usou nota fiscal-fatura com os Correios para obter mais R$ 3,5 milhões do BMG. No total, a CPI contabiliza R$ 55 milhões ou R$ 93 milhões corrigidos pela taxa de juros que incide nos contratos. São essas dívidas que a nova cúpula do PT discute se vai ou não reconhecer.