Título: Escândalo deve fazer mais baixas na cúpula do banco
Autor: Sérgio Gobetti e Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2005, Nacional, p. A4
Novas trocas na cúpula do Banco do Brasil estão sendo preparadas dentro do governo. Na lista de prováveis substituições que está sendo discutida pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, com o presidente do BB, Rossano Maranhão, estão os vice-presidentes das áreas de tecnologia e logística, José Luiz Cerqueira César, e de gestão de pessoal, Luiz Oswaldo de Souza. Os dois, integrantes do PT, foram uma imposição do partido e conseguiram se manter no cargo apesar das divergências com o ex-presidente do BB Cássio Casseb para retirá-los da direção do banco.
Cássio Casseb acabou caindo primeiro e, agora, Maranhão, que assumiu a presidência do BB há pouco mais de dois meses, está reestruturando a cúpula da instituição, promovendo uma despartidarização do banco.
Desta vez, a reestruturação conta com o empenho pessoal do ministro da Fazenda que vem acompanhando tudo de perto e estuda minuciosamente cada movimento no BB. Palocci, que não arriscou comprar uma briga interna com o PT e promover as mudanças na gestão de Casseb, agora tem sido árduo defensor da tese de reduzir a influência do PT no BB. O envolvimento do ex-diretor de Marketing Henrique Pizzolato no esquema de distribuição de dinheiro organizado pelo empresário Marcos Valério reforçou a necessidade de dar sinais de que não há ingerência política nas ações do banco. O pedido de aposentadoria de Pizzolato foi a alternativa à demissão que já estava acertada.
Segundo integrantes do governo, o sentimento é de "traição" dentro do BB. À medida que as investigações em curso pelo Congresso Nacional apontam que algumas das ações da área de Marketing podem ter sido negociadas por Pizzolato com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, "essa sensação aumenta". Por isso, o BB antecipou a auditoria interna nessa área que estava prevista para o segundo semestre. Palocci não quer comprometer ainda mais a imagem do banco e arrastar, de vez, um "um braço" importante da área econômica para dentro da crise.
Segundo a fonte, há a preocupação, no entanto, de não prejudicar pessoas que não tenham nenhum envolvimento nas denúncias, levantando suspeita da conduta profissional. "Não é porque a pessoa é uma indicação do partido que ela está sob suspeita. Mas há uma preocupação em preservar a imagem do BB", afirma a fonte.
Por isso, agora, avalia-se o melhor momento para efetuar as trocas. Dentro do BB acredita-se que Luiz Oswaldo, que apesar de ser vinculado ao PT também é um técnico, teria até chance de sobreviver.
ATRITO
Na gestão de Casseb, o vice-presidente teve muitos atritos por causa de visões diferentes de projetos que ele considerava prioritários e que estavam em segundo plano para o então presidente do BB, que tinha um foco maior na disputa de mercado com a concorrência. O programa de Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS), que prevê o financiamento de projetos para estimular a formação de cadeias produtivas de acordo com a vocação da região, foi um dos motivos de atrito entre os dois. Maranhão é entusiasmado com o programa e ficou ainda mais depois de visitar as cidades pioneiras do projeto.
Já a situação de Cerqueira César é considerada mais delicada. Desde a gestão passada, o clima de tensão e a desconfiança são grandes por causa das ligações com o partido. Segundo avaliações da área econômica, no entanto, as últimas trocas realizadas já garantem ao presidente do BB maioria no conselho diretor. Isso deixaria Rossano mais tranqüilo e daria tempo para encerrar as trocas. Dos sete vice-presidentes que compõem o conselho, Rossano conta com quatro votos a seu favor. "A substituição de mais dois vice-presidentes elevaria para seis, mas hoje a situação já é confortável", diz a fonte.