Título: CPI acha R$ 120 mil para Mentor entre saques de R$ 50 milhões no BB
Autor: Sérgio Gobetti e Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2005, Nacional, p. A4

Em um novo lote de documentos que chegaram ontem à CPI dos Correios, registrando pagamentos e transferências de mais de R$ 50 milhões efetuados pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza por meio de suas contas no Banco do Brasil, os técnicos da comissão descobriram dois cheques de R$ 60 mil cada um em favor do deputado José Mentor (PT-SP). Os valores foram transferidos da conta da DNA Propaganda no BB para a conta do escritório de advocacia do parlamentar, o J. Mentor Associados, em maio e julho de 2004. Braço direito da ex-prefeita Marta Suplicy, o petista é acusado pelos adversários de ter omitido de seu relatório em outra CPI, a do Banestado, detalhes importantes que envolviam a direção do Rural - com o qual Valério mantém negócios - no esquema de remessa de divisas ao exterior. Em 2003, a agenda de Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária do empresário, faz 3 referências a possíveis reuniões de seu chefe com Mentor. Numa delas, está anotado: "J. Mentor - transferir a reunião de amanhã para segunda e ver quando é o assunto Rural."

O petista confirma que teve encontros e que recebeu o pagamento de R$ 120 mil, mas nega qualquer relação com o "mensalão" ou com a CPI do Banestado. "Prestamos um serviço para o dr. Rogério Tolentino", declarou o deputado, referindo-se ao sócio de Valério na DNA. Segundo ele, o "serviço prestado" consistiu em "3 ou 4 análises, tipo parecer jurídico" que Tolentino teria contratado. Mentor não revelou detalhes sobre a consultoria. "Não lembro agora de cabeça, mas amanhã vou ter acesso aos papéis."

Originalmente, segundo Mentor, Tolentino e Valério o procuraram para discutir a estratégia de campanha do PT em cidades do interior paulista. "Ele (Tolentino) estava lá discutindo a possibilidade de um pool de deputados interessados nas eleições de alguns municípios. Era um trabalho conjunto de pesquisas e marketing", explicou. "Não deu certo, infelizmente."

Ainda segundo Mentor, ele foi procurado alguns meses depois por Tolentino, que o contratou para fazer assessoria jurídica. "Eu já estava levantando os documentos sobre esse contrato quando soube que o Tolentino era sócio do Valério", disse o deputado. Ele garante que o dinheiro depositado na conta do escritório foi todo faturado e declarado à Receita.

À CPI dos Correios, Karina declarou que destruiu 25 pastas com documentos da SMPB depois que seu ex-chefe recebeu telefonema de Mentor. A ligação teria ocorrido na época da CPI do Banestado.