Título: CPI começa a investigar se dinheiro do BRB era para pagar mensalão
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2005, Nacional, p. A5

As revelações do Estado de ontem sobre as movimentações do empresário Marcos Valério Fernandes de Sousa no Banco de Brasília (BRB) levaram os técnicos da CPI dos Correios a ampliar o foco das investigações financeiras do esquema do mensalão. Até agora, as atenções estavam voltadas apenas para as operações no Banco Rural e no Banco do Brasil. Valério é acusado de ser o principal operador do mensalão. Anteontem, chegaram na CPI os extratos bancários da conta da agência SMPB, empresa de Valério, no BRB. O problema é que o banco não enviou os cheques da conta, o que impede a análise de quem recebeu efetivamente o dinheiro movimentado pelo empresário. A CPI vai reforçar ao Banco Central a necessidade de receber toda a documentação possível sobre a conta no BRB.

O Estado revelou ontem que Valério movimentou cerca de R$ 100 milhões na conta da SMPB no BRB, nos últimos dois anos. Técnicos do Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf) e do BC estranharam as operações da conta, que seriam "atípicas".

Os técnicos do Coaf descobriram que a movimentação da conta apresenta indícios de uma operação de lavagem de dinheiro. Os recursos entram e saem do banco em ritmo intenso. Além disso, o dinheiro não é aplicado, como é a rotina com empresas que detêm investimentos dessa ordem.

Somente nos últimos três meses, passaram R$ 38 milhões pela conta - a campeã de movimentações na agência do Setor de Rádio e TV Sul, em Brasília. A agência fica a apenas dois quilômetros da Esplanada dos Ministérios.

Em vez do dinheiro ser sacado na boca do caixa, como no caso do Banco Rural, Valério distribuía os recursos eletronicamente via TED (Transferência Eletrônica Direta). Na semana passada, por exemplo, foram feitas oito operações desse tipo apenas numa manhã.

Ontem, o BRB soltou uma nota na qual confirma que a movimentação da conta se dá sobretudo por transferências eletrônicas. Também afirma que os recursos creditados na conta da SMPB são provenientes de contratos com órgãos públicos ou TEDs de outros bancos. O BRB confirma ainda que os saques em espécie na conta sempre foram inferiores a R$ 5 mil.

O banco garante que entregou todos dos documentos requisitados pela CPI e pelo BC. "O BRB cumpre integralmente todas as normas emanadas do BC e Coaf, pertinentes à lavagem de dinheiro, o que se aplica, portanto, à movimentação das contas sob comento."