Título: CPI age para impedir vazamento de dados
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2005, Nacional, p. A7

A CPI dos Correios decidiu adotar critérios rigorosos para reduzir a manipulação de denúncias comprometem parlamentares. A decisão teve origem na divulgação de informações atribuindo a mais de 20 parlamentares do PP o recebimento do "mensalão". Embora não tenha sido protocolado na CPI, o documento chegou aos jornalistas por meio de deputados. A reação de parcela dos mencionados na lista, publicada na edição do dia 17 do Estado, obrigou o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), e o relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), a emitirem ofício atestando que a denúncia não gerou nenhuma investigação.

"Excessos estão sendo cometido em nome da ética e acabam se transformando em seu contrário: a falta de ética, o desprezo pelas condições elementares de uma apuração séria e respeitosa", protestou Severino Cavalcanti (PP-PE), presidente da Câmara.

Os excessos apontados por Severino são explicados por Delcídio Amaral e Osmar Serraglio como decorrentes das disputas políticas e do clima autofágico que se instalou no Congresso, com sucessivos pedidos de cassação de mandatos. O diagnóstico é confirmado no desabafo do deputado Ivan Ranzolin (PP-SC), que teve o nome incluído na lista, imediatamente divulgada em Santa Catarina por seus adversários políticos.

"Sou de oposição, assinei o requerimento da CPI dos Correios e por isso fui expulso de todas as comissões técnicas pelo meu líder. Haveria alguma razão para receber o mensalão? Eu queria participar da CPI e fui impedido. Tenho experiência e poderia colaborar."

O baiano Mário Negromonte (PP-BA) também se sentiu atacado pelos adversários. "Quero que tudo seja esclarecido", reagiu. "Se alguém pegou dinheiro, que pague, que tenha o mandato cassado."

NEM TODOS

Severino acha que a mídia tem parte de responsabilidade quando dá curso a denúncias sem adotar critérios rigorosos na sua divulgação. Citou as críticas do Financial Times, segundo as quais "depois de ter escapado da censura há mais de 20 anos, a mídia brasileira ainda tem que descobrir como reportar acusações de corrupção sem assumir que todos os acusados são necessariamente culpados". Outro que se sentiu difamado ao ver seu nome na lista foi o deputado Augusto Nardes (PP-RS), eleito ministro do Tribunal de Contas da União pelos partidos de oposição, tendo derrotado o candidato do PT, José Pimentel (CE). "Voto contra o governo, denuncio as tentativas de aumento de impostos, fui um dos líderes do Congresso na derrubada da Medida Provisória 232, e assinei a CPI dos Correios."

Segundo Ivan Ranzolin, o mal que esse tipo de denúncia provoca é irreversível: "O denunciado é imediatamente discriminado em sua comunidade, a começar pelos vizinhos, depois na universidade, como é o meu caso, por ser professor. Nada repara isso."

O segundo-vice-presidente e corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), disse que ficou tão indignado com a lista dos suspeitos, que pensou em renunciar ao cargo. "Depois, entretanto, conversei com o presidente da CPI e ele me garantiu que lá não consta nada. Acho que tentaram desviar a atenção de dois depoimentos muito importantes, o de Sílvio Pereira e o de Delúbio Soares."