Título: Contas das empresas de Valério são a chave para desvendar esquema
Autor: Eugênia LopesLuciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/07/2005, Nacional, p. A10

CPI vai centrar foco na análise de 150 contas bancárias de 18 empresas; para comissão, apareceu apenas a ponta do iceberg

BRASÍLIA - As descobertas feitas até agora pela CPI dos Correios são, na definição de deputados e senadores, apenas a ponta do iceberg de um esquema milionário de tráfico de influência e arrecadação de recursos montado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza e pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. "Ele (Marcos Valério) é o núcleo de tudo. Mas não sei onde tudo isso vai parar", resume o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Para tentar desvendar o esquema, os integrantes da CPI decidiram centrar as investigações nas cerca de 150 contas bancárias das 18 empresas do publicitário. "Não sabemos sequer a real movimentação financeira de Marcos Valério e suas empresas", observa Serraglio. Em sua avaliação, outra ponta importante da investigação é o processo feito pelo juiz Jorge Macedo Costa, da 4.ª Vara da Justiça Federal de Minas Gerais, com os nomes de 120 beneficiários de saques feitos de contas no Banco Rural. Como envolve parlamentares, o processo está no Supremo Tribunal Federal (STF) e deverá chegar à CPI esta semana.

"Acho que esse material pode surpreender", aposta o relator. Ele adianta, porém, que não caberá à CPI dos Correios analisar o eventual envolvimento de parlamentares no esquema montado por Valério. Esses casos serão enviados para análise da CPI do Mensalão. "A CPI dos Correios vai perder o enfoque do mensalão. Mas não temos mais dúvidas da relação entre parlamentares e Marcos Valério", afirma Serraglio.

Preocupados em tabular os dados com as quebras de sigilo bancário, fiscal e telefônico de Marcos Valério, os integrantes dos partidos de oposição na CPI estão convictos de que o esquema montado pelo publicitário é muito maior do que se apurou até agora.

"Com certeza vai aparecer mais gente do que os supostos beneficiários dos R$ 39 milhões que Delúbio admitiu ter movimentado com Valério. Tem gente que acha que chega R$ 500 milhões", reforça o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), sub-relator da comissão. "Tem muita coisa ainda por vir. A CPI avançou, mas falta uma sistematização dos trabalhos", emenda o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), integrante da comissão.

Os parlamentares do PT se dizem surpreendidos com o esquema montado por Marcos Valério. "A impressão que temos é que a cada dia vão aparecer mais fatos novos. É difícil prever se as coisas vão estagnar", diz o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), que integra a CPI dos Correios. Os petistas argumentam, no entanto, que o esquema montado por Valério não é inovador e é anterior a 2003, antes do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

"Existia um modelo anterior a este governo que envolve muitos partidos, inclusive os de oposição", atesta o deputado Carlos Abicalil (PT-MT), que também integra a CPI dos Correios. Ele aposta que há mais empresários, além de Marcos Valério, envolvidos nesse tipo de operação. "Pode não ser uma prática apenas das empresas do Marcos Valério", diz o petista. "A arrecadação de fundos comandada por Marcos Valério foi para diversas forças políticas e não só para o PT", lembra Cardozo.

Para o senador Sibá Machado (PT-AC), a CPI dos Correios já avançou bastante nas investigações. "A CPI já descobriu caixa 2 de campanha, o império de Marcos Valério e um grande número de pessoas do PT envolvidas com tudo isso", diz o senador. "Não pode ter nada mais surpreendente. Se há algo maior do que isso, pelo amor de Deus, é melhor fechar o Brasil", conclui.