Título: PT pode não pagar defesa de Delúbio
Autor: Clarissa Oliveira e Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2005, Nacional, p. A11

O PT estuda cancelar oficialmente o pagamento dos advogados de defesa do ex-tesoureiro Delúbio Soares e do ex-secretário-geral do partido Silvio Pereira. A direção da legenda havia se comprometido a assumir as despesas jurídicas da defesa de ambos quando o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) fez as primeiras denúncias a respeito da compra de apoio na Câmara dos Deputados. Com o agravamento da crise, a licença dos dirigentes e a confissão de Delúbio a respeito da prática de caixa 2 para financiar as campanhas do partido, há forte pressão para que a sigla suspenda qualquer auxílio. Especialmente porque a legenda deve pelo menos R$ 39 milhões e, nas palavras do novo presidente, Tarso Genro, está em situação de "insolvência". De acordo com o secretário-geral do partido, deputado Ricardo Berzoini, o PT não deve assumir, "em hipótese alguma", o pagamento da defesa do ex-tesoureiro. Para o secretário-geral, as decisões tomadas por Delúbio foram individuais e não são de responsabilidade da legenda. "Ele agiu de acordo com sua vontade e tomou decisões que não são partidárias. Seria correto defendê-lo em casos de ações tomadas em nome do partido", argumentou.

Berzoini esclareceu que terá uma conversa hoje com o presidente Tarso Genro e o novo tesoureiro, José Pimentel, para saber se o PT está ou não pagando a defesa de Delúbio e se existe algum contrato assinado entre o PT e esses advogados. A mesma equipe do criminalista Arnaldo Malheiros Filho atende ao ex-tesoureiro e ao ex-secretário-geral. "Até agora, não tenho nenhum conhecimento de nenhum contrato. Não tenho nenhum conhecimento sobre a remuneração dos advogados."

Na segunda-feira, um dia antes da reunião da Executiva Nacional do PT e dois dias antes do depoimento de Delúbio à CPI dos Correios, o ex-tesoureiro esteve no Diretório Nacional. Na ocasião, Berzoini havia dito que Delúbio se reunira com advogados do PT. Ontem, ele insistiu que o encontro não teve relação com o depoimento à CPI. "A conversa de segunda não tinha nada a ver com advogados contratados, mas apenas, segundo fui informado pela assessoria jurídica do PT, ele (Delúbio) conversou com advogados do partido sobre assuntos que não diziam respeito ao depoimento."

Berzoini ainda defendeu a iniciativa do presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS) , que fez um apelo ao presidente do STF, Nelson Jobim, para evitar a concessão de habeas-corpus preventivos para depoentes na CPI. Delúbio, Pereira e o publicitário Marcos Valério de Souza usaram habeas-corpus para se esquivar de várias perguntas em seus depoimentos. De acordo com Berzoini, sem o recurso legal, a "capacidade de investigação da CPI" fica ampliada.

José Pimentel também não quis dizer se o advogado de Delúbio tem hoje seus honorários pagos pelo partido. "Quem trata destas questões é o presidente (do PT) Tarso Genro." O novo tesoureiro e Berzoini passariam a tarde de ontem analisando a situação financeira do partido.