Título: Resposta à crise será 'trabalho e mais trabalho'
Autor: Tânia Monteiro e Leonêncio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2005, Nacional, p. A12

Ao empossar três ministros e encerrar a reforma do primeiro escalão, o presidente Lula falou, em discurso de improviso, dos "momentos difíceis" por que passa o País. "Quero dizer a todos que estão aqui, de todas as áreas, que de nossa parte a resposta a tudo isso será trabalho, trabalho e mais trabalho", disse ele, para os funcionários que lotavam o Planalto. "Lamento as coisas, muito mais pelo povo brasileiro do que por nós, políticos." Antes da cerimônia, Lula se reuniu com parlamentares e ministros e, ao ser indagado pelo líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), se o projeto de reeleição estava de pé, respondeu: "O importante agora é recuperar o tempo perdido para pensarmos, em outro momento, em tratar da reeleição".

Além de Márcio Fortes, tomaram posse ontem os ministros da Previdência, Nelson Machado, e da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende. Referências à crise política rechearam o discurso de Lula, que defendeu a apuração das denúncias pelo Congresso, pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. "Estou convencido de que o Brasil está atravessando um momento da sua afirmação como Nação. Este País foi muitas vezes desacreditado por gente do próprio Brasil", afirmou.

Ele lembrou debates da época da Constituinte, quando alguns diziam que o País não suportaria não suportaria tantas mudanças. "E o Brasil suportou. Agora estamos vivendo um momento em que o Congresso está cumprindo com a função constitucional a ele delegada de, através de uma CPI, fazer as investigações que entenda que deva fazer."

"TRABALHO PARALELO"

Lula declarou não ver problema no fato de várias investigações estarem em curso ao mesmo tempo. "O que é mais importante é que o fato de o Congresso estar fazendo seu trabalho. Isso não impede o governo, através da PF, ou o Ministério Público de fazer seu trabalho paralelo", disse.

"Quanto mais trabalharmos nesta área, quanto mais seriedade houver nas apuração, independentemente de quem seja, estaremos acreditando que é possível diminuir os desvios de recursos, a malversação do patrimônio público e fazer, sobretudo, com que daqui para frente os homens públicos possam se transformar em pessoas com credibilidade junto à opinião pública, porque nem sempre a história do Brasil permitiu que acontecesse."

Ao falar sobre os novos ministros, Lula disse esperar ir até o fim do governo com este "time", embora tenha reconhecido que "nunca se pode dizer que a reforma acabou porque um ministro pode pedir para sair e não há como segurá-lo". O presidente falou da sua dificuldade em demitir: "A pior coisa do mundo é você ter que dizer para um companheiro que você vai precisar substituí-lo". Aproveitou a ocasião para pedir apoio ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), padrinho do novo ministro das Cidades. "A Câmara joga um papel extremamente importante na coesão dos deputados", afirmou.