Título: Para ONU, impacto será mais político
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2005, Economia & Negócios, p. B1

Economistas na ONU dizem que a decisão do governo da China de promover a valorização de sua moeda terá mais um impacto político do que efeitos econômicos reais a curto prazo. Já entidades como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Organização Mundial do Comércio (OMC) aplaudem a iniciativa como um passo na direção certa. Um dos principais efeitos da mudança seria o potencial aumento das vendas de produtos de todo o mundo, inclusive do Brasil, para a China. Mas com uma valorização de apenas 2%, analistas acreditam que o impacto deve ser tímido nas exportações de outros países, e que a medida serve em grande parte para tirar a pressão dos governos que insistem em ameaçar com a a imposição de barreiras contra os produtos têxteis chineses.

Para a Comissão Econômica da ONU para a Europa, as exportações da região devem se beneficiar apenas marginalmente. Já as vendas chinesas ao mundo, principalmente as do setor têxtil, não devem sofrer tantos problemas. As exportações chinesas crescem 35% ao ano, em média. Em 2004, a China foi a terceira maior exportadora do mundo, superada pela Europa e Estados Unidos.

Para a ONU, a relação comercial com os Estados Unidos também não deverá sentir mudanças consideráveis. "Vemos essa medida como um sinal político, principalmente depois que o governo americano afirmou que poderá impor barreiras às exportações de têxteis vindos da China" afirmou o diretor do Departamento de Avaliação da Comissão Econômica da ONU, R. Chowdhary.

Na opinião de analistas, a medida ainda poderá ser anulada se outras economias asiáticas, como Coréia ou Índia, decidirem seguir o mesmo caminho e reavaliar suas moedas. Mas com um superávit cada vez maior e exportações crescendo a taxas quase duas vezes superiores ao aumento das importações, especialistas da OMC estimam que este era o momento adequado para que a China desse esse primeiro passo na mudança cambial. "Essa era a medida que todos os economistas, em vários lugares do mundo, pedíamos há muito tempo", afirmou um analista da OMC.

Para ele, o impacto positivo não será sentido apenas pelos países que exportam para a China. Para um país que necessita cada vez mais de matéria-prima e energia, a valorização tornará esses produtos mais baratos, possibilitando alimentar de forma mais eficiente a economia local.

Na OCDE, a reação à mudança foi positiva e mesmo recomendável. Para o secretário-geral da entidade, Donaldo Johnston, a medida é "um passo importante para dar à economia chinesa a flexibilidade necessária para apoiar o crescimento sustentável e rápido, além do contínuo crescimento da integração à economia mundial".