Título: Desaceleração das indústrias deve continuar
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2005, Economia & Negócios, p. B4

A desaceleração da atividade industrial deve continuar no segundo semestre deste ano, com queda nas exportações e retração na demanda interna, aponta a pesquisa Sondagem Industrial, divulgada ontem pelo Confederação Nacional da Indústria (CNI). O documento mostra que a taxa de câmbio ganhou importância no ranking dos principais problemas enfrentados pelas grandes empresas que, pela primeira vez em 6 anos, esperam exportar menos até o final do ano. O câmbio é hoje, para as grandes indústrias, um problema maior do que os juros. A CNI acha que a contínua valorização do real ante o dólar e as taxas elevadas de juros explicam o pessimismo. A taxa de câmbio provoca queda na rentabilidade das empresas exportadoras, deixando-as mais suscetíveis às condições do mercado interno. A elevação dos juros inibiu a demanda interna, prejudicando o faturamento das pequenas e médias empresas, que têm menos acesso ao mercado externo.

Os juros elevados, geralmente apontados como o segundo maior problema enfrentado pelo setor, perderam o lugar para a taxa de câmbio entre as grandes empresas. A valorização do real foi apontado como o principal problema por 48,7% das 197 empresas de grande porte ouvidas pela CNI.

A falta de demanda foi assinalada por 34% das grandes empresas no segundo trimestre. No primeiro trimestre, este problema foi apontado por 29%. Entre as pequenas e médias empresas, o indicador dobrou em dois trimestres, saltando de 19% no quarto trimestre de 2004 para quase 39% no segundo trimestre de 2005.

"O arrefecimento na demanda interna e a retração nas expectativas em relação às exportações explicam as perdas de dinamismo na indústria. A soma desses dois fatores é que justificou a recuperação da atividade industrial no segundo semestre de 2004", disse o coordenador da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.

O nível de capacidade instalada da indústria repetiu o patamar do primeiro trimestre: 72%. Mas as indústrias operam com mais folga do que nos últimos trimestres de 2004. A Sondagem Industrial ainda mostra formação de estoques "indesejados", no segundo trimestre deste ano, principalmente nas grandes empresas dos setores mobiliário e têxtil.

Para a CNI, a situação atual é semelhante à que ocorreu no início de 2003, quando houve desaquecimento da atividade industrial e elevação significativa dos estoques por dois trimestres consecutivos. A entidade ainda destaca queda na compra de matérias-primas, no segundo trimestre, e aponta que as compras não devem aumentar neste semestre. A expectativa é de que as empresas encomendassem mais matérias-primas para atender a demanda do terceiro trimestre, período mais forte do ano para o setor industrial.

O cenário também é pessimista para o mercado de trabalho: o ciclo de contratações iniciado em janeiro de 2004 deve ser interrompido.