Título: Selic leva dívida a R$ 905,5 bi
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2005, Economia & Negócios, p. B6

A dívida interna do governo em títulos públicos subiu 11% no primeiro semestre deste ano, atingindo novo recorde de R$ 905,5 bilhões. O que mais contribuiu para a alta de R$ 95,2 bilhões da dívida desde o início do ano foram os sucessivos aumentos da taxa de juros básicos (Selic) pelo Banco Central (BC), já que mais da metade dos títulos públicos em poder do mercado é corrigida pela taxa. Em maio, a dívida somava R$ 887,9 bilhões. Embora a crise política tenha se agravado nos últimos dias, o governo ainda não identifica reflexos no cenário econômico que comprometam a gestão da dívida. O coordenador da Dívida Pública do Tesouro Nacional, Paulo Valle, disse que a administração continua dentro do planejado e considerou positivo o resultado do primeiro semestre. "Parte do aumento também reflete a estratégia do Tesouro de fazer mais reservas de recursos", explicou. Ao longo do semestre, foram vendidos R$ 28,2 bilhões em títulos.

Para Valle, os investidores estão confiantes na economia do País, pois têm comprado papéis com prazos de vencimentos mais longos. Em junho, informou, o Tesouro vendeu R$ 500 milhões em papéis prefixados (NTN-F) de 7 anos, a maior parte para estrangeiros. Os títulos prefixados têm a sua remuneração definida no momento dos leilões e são melhores para o governo porque sabe-se antecipadamente os seus custos.

Valle lembrou que, antes de 2004, o Tesouro só conseguia vender NTNs com prazos médios de 2 anos. "Por isso, é um fato histórico", comemorou. No mês passado foram vendidos R$ 14 bilhões em títulos prefixados, elevando a parcela da dívida pública prefixada para 22,95% do total. A meta do governo é fechar o ano com uma participação desse tipo de título numa faixa entre 20% e 30% do total da dívida.

A parte da dívida atrelada à variação cambial caiu para 4,12%, por causa da valorização do real ante o dólar. Já a parcela vinculada à taxa Selic, que representa mais da metade do total da dívida e é a mais vulnerável aos humores do mercado financeiro, caiu de 57,2% para 56,5% com a recompra de R$ 4,3 bilhões desse papéis pelo Tesouro. Em junho, também houve uma pequena redução na venda de títulos corrigidos por índices de preços, mas os técnicos esperam que ela volte a subir até o final do ano. O prazo médio de vencimento da dívida total caiu de 27,4 meses para 27,1 meses de maio para junho, mas, para Valle, "é algo sazonal".

DIRETO

Os investidores que compram títulos pela Internet, dentro do programa Tesouro Direto, adquiriram em junho R$ 53,5 milhões em títulos públicos federais. O programa já acumula R$ 935,9 milhões em papéis vendidos. Foram cadastrados 1.238 investidores em junho, totalizando agora 41.237. O Tesouro Direto permite a aquisição de títulos públicos por pessoas físicas pela rede.

O balanço mensal do Tesouro mostra que em junho aumentou a procura das pessoas por títulos prefixados (LTN) cujo ganho do investidor é definido no momento da compra. As LTN significaram 63,6% das vendas. Isso demonstra que as pessoas não esperam novas altas de juros no curto prazo.