Título: Visita íntima: o amor que supera as grades
Autor: Marinês Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2005, Metrópole, p. C6

Silvana Madalena Pires, de 35 anos, mal pode esperar pelo último sábado de cada mês. Nesse dia, se enche de perfume, recebe seu "kit íntima" e mata de inveja as colegas dos quatro pavilhões da Penitenciária Feminina do Tatuapé. Sem um maridão como o da moça condenada por tráfico, as prisioneiras o vêem chegar todo arrumado e passar três horas com a mulher na ala especialmente construída para o encontro amoroso. Não há luxo nem sinal de erotismo na "íntima", como é conhecido o pequeno anexo do presídio. A cama é de cimento, as paredes são brancas e o kit é simples - dois roupões de tecido felpudo na cor lilás, um lençol, uma colcha, um sabonete e seis envelopes com preservativos. Mas quem precisa de espelhos, banheira de hidromassagem e cama macia e redonda diante da oportunidade de ficar juntinha do amado?

DIREITO CONQUISTADO

Três anos atrás, quando conquistaram o direito adquirido pelos homens em 1987, as mulheres passaram a tentar comprovar vínculo estável para poder receber a visita íntima uma vez por mês. As duas diretoras dos presídios que implantaram o sistema imaginavam uma superlotação de maridos carentes.

Mas não foi o que aconteceu. Das 665 mulheres que cumprem pena na Penitenciária do Tatuapé, na zona leste, há só 35 inscritas para a visita e a média de homens que aparecem para o encontro é de 5 por mês. Em 2002, 16 celas foram reservadas para os encontros. Mas, como a oferta era maior que a procura, a solução foi devolver o espaço para o cumprimento das penas e construir uma ala. O novo espaço, pronto há cinco meses, pode receber até 12 casais.

O mesmo aconteceu na Penitenciária Feminina da Capital, no Carandiru, na zona norte. Das 700 presas, só 30 se inscreveram para a visita íntima e, mesmo assim, dos 20 quartos construídos num anexo em 2002, boa parte fica vazia. O problema é que os maridos preferem aproveitar a folga do fim de semana sem enfrentar filas nas portas das cadeias. Por isso Silvana é considerada uma felizarda: "Tenho um marido de ouro. Contamos nos dedos os dias que faltam para o encontro." Além de comparecer nas datas marcadas, leva o almoço para a refeição a dois na ala íntima: "Ele traz macarrão com frango e, às vezes, até yakissoba."