Título: Lula investe menos em transportes
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/07/2005, Economia & Negócios, p. B1

O governo Lula investiu menos nos transportes do que seu antecessor, apesar das declarações do presidente, na semana passada, de que nunca se investiu tanto na área como agora. Levantamento do Centro de Estudos em Logística (CEL), da Coppead/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mostra que nos dois primeiros anos do mandato petista a média anual de investimento ficou em R$ 1,6 bilhão, ante R$ 1,9 bilhão da administração anterior, de 1995 a 2002. Se os valores forem atualizados pela inflação, a diferença aumenta ainda mais. O estudo mostra ainda que os recursos aplicados na infra-estrutura de transporte representaram apenas 0,09% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2003 e 0,11% em 2004 (ver quadro). O volume de investimentos somou R$ 3,3 bilhões.

A promessa do governo é que esse valor seja praticamente dobrado neste ano, já que o orçamento do Ministério dos Transportes é de R$ 6,4 bilhões. "Esse é o valor anunciado, mas não conseguimos ver a aplicação desses recursos", lamenta o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Saturnino Sérgio da Silva, diretor do Departamento de Infra-Estrutura (Deinfra) da entidade.

Mesmo que esse volume seja investido, o número está bem distante das necessidades do País, afirma o vice-presidente-executivo da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), Ralph Lima Terra. Segundo ele, para se tornar competitivo no cenário internacional, o Brasil precisaria investir cerca de US$ 4 bilhões por ano nos transportes, que inclui rodovias, ferrovias, portos e aeroportos.

Com os baixos investimentos nos últimos anos, o colapso do setor vem sendo anunciado e deu os primeiros sinais no ano passado, com o crescimento mais robusto da economia. A esperança era que as Parcerias Público-Privadas (PPPs) contribuíssem para pôr fim às precárias condições das estradas e melhorassem o acesso aos portos brasileiros, cujo investimento não acompanhou a evolução do comércio exterior do País.

Mas, dois anos depois, as PPPs ainda não saíram do papel. A explicação está na criação do fundo garantidor, que vai oferecer maior segurança aos empreendedores. Com a turbulência política no ambiente doméstico, o temor é que o processo seja retardado ainda mais. Segundo o executivo da Abdib, a regulamentação do fundo está pronta; falta apenas determinar quem vai gerir e administrar esse fundo. "Apesar disso, o programa nunca sai", lamenta ele.

O leilão de concessão de rodovias também foi adiado. O Tribunal de Contas da União (TCU) pediu novos estudos de viabilidade econômica para tentar reduzir o valor dos pedágios, previsto no trabalho inicial. O Ministério dos Transportes ainda acredita ser possível fazer o leilão dois oito lotes de estradas até o fim do ano.