Título: Na BR-116, rumo à longa espera
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/07/2005, Economia & Negócios, p. B3

Andar pela Rodovia Régis Bittencourt (o trecho da BR-116 entre São Paulo e Curitiba) é um exercício de paciência. Seja qual for o sentido, o cenário é o mesmo: congestionamentos gigantes e motoristas tentando manter a calma enquanto o trânsito não anda - uma tarefa nem sempre fácil tratando-se do tempo de espera na fila. O trecho em questão é o final da Serra do Cafezal, onde o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit), do Ministério dos Transportes, faz a recuperação da ponte sobre o Rio São Lourencinho, no km 366,2 da BR-116. Desde o início de março, a travessia é feita numa única pista, obedecendo a velocidade máxima de 30 km por hora.

A conclusão da obra está prevista para setembro. Até lá, os motoristas terão de reforçar a dose de paciência para ultrapassar o obstáculo. Na quinta-feira, a reportagem do Estado foi conferir a situação do trecho e se deparou com um congestionamento de aproximadamente 25 km. A lentidão começa perto do km 340, logo após o fim da pista dupla da rodovia. Dali pra frente a situação só piora.

Alguns sinais indicam que sair do congestionamento não será uma tarefa fácil. Para reforçar o orçamento, os moradores aproveitam o trânsito para vender pipocas, salgadinhos, água, refrigerantes e sucos na estrada. Essa é uma das poucas alternativas para quem não saiu de casa preparado para o "martírio da Regis", dizem os motoristas. As filas da rodovia chamam a atenção até mesmo de quem não é da região.

O artesão Jonatas Santos da Silva, de 21 anos, vindo da Bahia havia sete dias, atraído pelas longas filas da rodovia, foi morar num vilarejo ao lado da ponte em restauração. O objetivo de Silva: vender objetos talhados em madeira para os motoristas presos no congestionamento.

Nascido em Jequié, na Bahia, ele foi avisado do ponto por amigos que já estiveram na região. Mas, por enquanto, a rodovia não tem rendido muito lucro. "Vendi apenas R$ 500 em 7 dias. É muito pouco", afirmou Silva, destacando que, se as vendas não melhorarem, ele deverá ir embora.

Enquanto isso, nas filas, a irritação dos motoristas aumenta. Aos poucos, os carros são desligados, as pessoas começam a deixar os veículos e logo se agrupam para discutir o caos da rodovia. Embora a pista não esteja em situação precária, ninguém consegue encontrar pontos positivos no transporte brasileiro. E não é para menos: esperar cerca de 5 horas para percorrer pouco mais de 20 km é realmente um teste de paciência.

Foi o caso de Godofredo Santos Camargo, que faz o trajeto pelo menos três vezes por semana para levar material de laboratório para Pariquera-Açu, no interior de São Paulo. Há quase cinco horas na fila, ele conseguiu chegar até a ponte e aguardava a autorização dos fiscais para finalmente seguir viagem.

"Nada funciona neste País", reclamava ele, bastante irritado. Quando explicava que a Polícia Rodoviária havia dito que a situação estava mais complicada na rodovia por causa das férias escolares, ele esbravejava. "Isso é desculpa. Olhe nesta fila e veja quem são os motoristas. Quase todos estão a trabalho e não a passeio."

Camargo tinha sua razão. A maioria dos veículos que aguardavam no congestionamento da Régis era caminhões. Boa parte deles estava atrasada para entregar suas cargas, como Fábio Leandro Trevisol, de 23 anos. Carregado de embalagem para margarina, o caminhão deveria descarregar em Paranaguá, no Paraná, por volta das cinco horas. Mas às três horas da tarde da quinta-feira ele ainda estava na metade do caminho até chegar à ponte do Rio São Lourencinho. "A empresa já ligou avisando que precisa urgente das mercadorias", comentou ele.

O esquema montado pelo Dnit na ponte em reconstrução depende do fluxo de veículos de ambos os lados. Na quinta-feira, os veículos tinham 30 minutos para passar pela ponte. Em seguida, era fechada para que os automóveis do outro lado pudessem atravessar. E assim sucessivamente.

O problema é que nesse período as betoneiras também tinham de usar a ponte para encher a pista de concreto. Isso diminuía o tempo para que os veículos parados no congestionamento passassem. Além disso, a velocidade é regulada, não pode ultrapassar os 30 km por hora.

Segundo os motoristas, os enormes congestionamentos na Régis também têm chamado a atenção de infratores. "Já começamos a ouvir casos de assalto de motoristas parados nas filas, especialmente à noite, quando a fiscalização da Polícia Rodoviária diminui", afirmou o motorista Valdir Martins, de 54 anos. Durante o dia, as viaturas da Polícia percorrem os dois lados do trânsito para tentar pôr ordem nas filas e evitar que os acostamentos sejam usados.