Título: Feiras abrem novo canal de venda aos produtores
Autor: Vera Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/07/2005, Economia & Negócios, p. B6

É madrugada. Adenilso Roncaglia está pronto para viagem de 100 quilômetros, até o Parque da Água Branca, em São Paulo. Rotina semanal, cansativa, mas compensadora. A principal feira de produtos orgânicos de São Paulo é um alento. Roncaglia é um pioneiro. Junto com o pai e o irmão, produz fruta numa pequena roça em Valinhos, na região de Campinas. Detalhe: fruta orgânica, que, quando sobra, chega às gôndolas das grandes redes de varejo. Hoje, os principais inimigos, dizem os produtores, da expansão desse modo de produzir alimento. "A sobrevivência da agricultura orgânica brasileira está nos canais alternativos", assegura Roncaglia. Busca insistente por espaços menos hostis como os que existem nas grandes redes de varejo.

Produtor de morango, goiaba, figo, Roncaglia está satisfeito. O ganho é pouco, mas suficiente para garantir o sustento da toda a família. Não há produção que encalhe. Tem em mãos algo mais do que um produto plantado e cuidado sem uma gota de produto químico: oferta de qualidade a preço justo.

Fernando Ataliba, outro produtor de orgânicos na região de Campinas, com sítio em Indaiatuba (SP), tem exatos 20 hectares com hortaliças. Há 8 anos desistiu da agricultura convencional. Tem boa produção, mas enfrenta, além do problema da comercialização, outro desafio. Na região, a terra vale mais dividida em metros quadrados para loteamento do que o rendimento obtido em caixas de berinjela, abobrinha e tomate extraídos num hectare. O assédio imobiliário é gigantesco. Pois qual é a razão de manter a disposição de ser agricultor há 25 anos? Não é o dinheiro, responde.

A agricultura orgânica lhe dá o sustento. Garante a ele uma bela casa com decoração rústica de muito bom gosto, dois carros de meia vida e um trator de 1989. "Nada é fácil. Há muita fantasia sobre a produção de orgânicos e os produtores de orgânicos. Os problemas são os mesmos de um pequeno produtor", antecipa. Não é demanda, mas é comercialização. Praticamente toda a produção é entregue hoje às distribuidoras, as mesmas que negociam com as grandes redes do varejo. Sem escala e dependente de logística irremediavelmente cara, os orgânicos não têm alternativa senão criar novos canais de comercialização.