Título: Comércio e ajuda na agenda do G-8
Autor: Celia W. Dugger
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2005, Economia & Negócios, p. B5

O avanço no alívio da dívida de 18 dos países mais pobres do mundo ganhou as manchetes neste mês. No entanto, apenas duas semanas antes de as nações mais ricas voltarem a discutir os males das nações pobres, desta vez numa reunião de cúpula na Escócia, duas questões mais importantes pairam no ar: a ajuda e o comércio. Embora o acordo da dívida, alcançado no dia 11 numa reunião de ministros das Finanças em Londres, livre o Banco Mundial e 18 países pobres de décadas de negociação inútil, ele vai produzir relativamente pouco dinheiro novo para o combate à pobreza - cerca de US$ 1 bilhão por ano. Isto é apenas um pouco mais que 1% da ajuda que os países ricos deram aos pobres no ano passado e uma fração minúscula do aumento da ajuda que o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, buscará como anfitrião da reunião do Grupo dos 8 (países industrializados) que começa 6 de julho em Gleneagles, Escócia.

Blair busca dobrar a ajuda, o que incluiria mais US$ 25 bilhões para a África. O temor de alguns defensores de um grande aumento da ajuda é que a euforia com o alívio da dívida diminua a pressão sobre os líderes das nações ricas para que façam mais. "A reunião do G-8 é tudo ou nada para a mobilização de recursos para a África", disse Kevin Watkins, do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas.

Ao longo do último ano, relatórios da Grã-Bretanha, ONU e Banco Mundial argumentaram que os países africanos precisam, sim, erradicar a corrupção e melhorar a administração de suas economias - mas também precisam de muito mais dinheiro para pagar clínicas, escolas, medicamentos, estradas e outros investimentos a fim de ajudar milhões de africanos a sobreviver, receber educação e ter um meio de vida.

Em maio, as 15 principais nações da União Européia, que já fornecem a maior parte da ajuda aos países pobres, decidiram quase dobrar sua contribuição em 5 anos. O governo Bush não quis assumir compromisso similar, duvidando que os países pobres possam gastar produtivamente um acréscimo tão grande.

E a probabilidade de a ajuda americana crescer tanto quanto o próprio presidente Bush gostaria pareceu diminuir ainda mais na semana retrasada. Líderes republicanos da Comissão de Apropriações da Câmara já haviam estabelecido uma meta de US$ 20,2 bilhões para os gastos com ajuda externa no próximo ano, US$ 2,5 bilhões a menos do que Bush pedira (a quantia reservada no ano passado foi de US$ 19,7 bilhões).

E até mesmo as prioridades de Bush são vulneráveis. Há cerca de duas semanas, a subcomissão que supervisiona a ajuda cortou quase pela metade os US$ 3 bilhões que Bush pedira para uma de suas iniciativas emblemáticas, a Conta do Desafio do Milênio, destinada a conceder doações a países pobres bem governados.

John Scofield, porta-voz da Comissão de Apropriações da Câmara, observou que os gastos com ajuda propostos por Bush aumentam mais rápido do que os gastos com segurança doméstica ou defesa.

O comércio também é uma questão crucial para os países em desenvolvimento - e estará na agenda do G-8 na Escócia, embora as datas decisivas deste ano caiam em dezembro, na reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Hong Kong.

Algumas estatísticas indicam a importância do comércio para os países pobres: as nações ricas gastaram US$ 280 bilhões no ano passado com subsídios agrícolas - mais que o triplo dos US$ 79 bilhões gastos com ajuda. Estes subsídios reduzem os preços dos produtos agrícolas nos mercados internacionais, dificultando a concorrência dos agricultores dos países pobres. Se todas as barreiras comerciais fossem derrubadas e os subsídios agrícolas, eliminados, os países em desenvolvimento ganhariam US$ 100 bilhões em renda, segundo estimativas do Banco Mundial.

Com a aproximação das negociações na reunião do G-8, os que pressionam pelo aumento da ajuda tentam pôr em perspectiva o bilhão extra em recursos, resultado do alívio da dívida, e lembrar os líderes das nações ricas que, em sua visão, as regiões pobres do mundo precisam é de um sistema comercial mais justo e de mais auxílio.

"São países que precisam de financiamento para construir infra-estrutura, combater a doença e cultivar mais alimentos", disse Jeffrey D. Sachs, economista da Universidade de Colúmbia. "São países que não têm nada. As pessoas estão morrendo."