Título: 'Brasil deve impor salvaguardas'
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2005, Economia & Negócios, p. B4

Gary Hufbauer, economista do Instituto de Economia Internacional, especializado em comércio mundial, afirma que o Brasil deve ser cauteloso e impor salvaguardas contra produtos chineses se a sua indústria for prejudicada, como está previsto no protocolo de admissão da China na OMC. Em entrevista ao Estado, Hufbauer diz que o mundo se prepara para enfrentar uma série de batalhas comerciais nos próximos meses e a China deveria valorizar o yuan - mas isso não vai resolver o problema do déficit comercial dos EUA. O Brasil, os EUA e a Europa estão certos quando culpam a China por alguns de seus problemas?

É justo dizer que o renminbi (yuan) está subvalorizado. Mas o erro do Congresso americano e, talvez, do Brasil também, é exagerar a importância desse fator. A China vai continuar aumentando suas exportações de manufaturados, mesmo que o país valorize o yuan de 10% a 20% no próximo ano. A valorização do yuan vai apenas levar as empresas chinesas a produzir produtos mais sofisticados.

Como vai evoluir o sentimento anti-China?

Eu não vejo uma guerra comercial aberta, mas várias batalhas comerciais. A China vai enfrentar restrições às suas exportações de têxteis, não apenas por parte dos EUA e da UE, mas também por parte de seus "aliados" na OMC, como Brasil e África do Sul.

O que a China deveria fazer no momento?

O governo chinês deveria começar com uma valorização do renminbi de 5% a 10%, ao mesmo tempo em que libera os controles de saída de capitais e restringe a entrada de capitais especulativos.

O Brasil tem vivido uma onda de protecionismo por causa do aumento das importações chinesas. Como lidar com essa situação?

O Brasil deveria ser prudente e impor salvaguardas contra produtos chineses, caso os produtores brasileiros estejam sendo prejudicados.

A diplomacia brasileira tem-se aproximado da China. Mas agora o Brasil pode se indispor com a China por causa das salvaguardas. A China é um aliado ou um grande competidor do Brasil?

O Brasil tem relações complexas com a China. Por isso, acho improvável que Brasil, China e Índia consigam formar uma "grande aliança" em oposição aos EUA, UE e Japão. Uma tática mais construtiva é costurar alianças pontuais, dependendo das questões discutidas. Já é hora de tirar as negociações comerciais da esfera ideológica e trazê-las para o mundo real comercial.