Título: Grampos da PF ligam Jefferson a quadrilha de liberação de cargas
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/07/2005, Nacional, p. A4

Gravações da Polícia Federal obtidas pelo Estado revelam que apadrinhados do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) na Polícia Rodoviária Federal no Rio operavam um esquema de liberação irregular de caminhões e carretas apreendidas. Feitos com autorização judicial, os grampos também mostram que havia uma disputa entre policiais indicados pelo PTB e pelo PT pelo controle de postos-chave no esquema de liberação de cargas. O próprio Jefferson é flagrado nas conversas fazendo tráfico de influência.

As escutas foram feitas entre 2003 e 2004. Elas fazem parte de investigação da PF sobre adulteração de combustíveis, que culminou na Operação Poeira no Asfalto. Em novembro do ano passado, a PF prendeu 22 policiais rodoviários federais, além de fiscais da Receita e policiais civis. O policial rodoviário federal Luís Carlos Roque, um dos indicados de Jefferson, foi preso, mas solto em seguida.

As gravações estão sob segredo de Justiça e anexadas ao processo da Operação Poeira no Asfalto, que tramita na 2.ª Vara Federal do Rio de Janeiro. Apesar do material explosivo, a PF só prendeu um dos policiais que aparecem nas conversas.

O superintendente da Polícia Rodoviária Federal no Rio, Antônio Carlos Correa, é um dos que permanecem no cargo. Ele foi indicado por Jefferson e aparece nas gravações ordenando a liberação de uma carreta. "É um pedido do parlamentar de Petrópolis", explica ao subordinado, referindo-se a Jefferson, natural da cidade.

INTERLOCUTORES

Os interlocutores mais freqüentes nos diálogos são os policiais Luís Carlos Roque e Fátima Pino de Souza. O primeiro era gerente da Polícia Rodoviária Federal no município de Itaguaí e ela é presidente do Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais do Rio de Janeiro. Os dois combinam acertos, liberam veículos, participam de campanhas do PTB e até discutem política com assessores do partido. "Todo policial rodoviário tem de ser leal ao deputado", diz Roque nas gravações. "O Roberto sempre foi meu padrinho."

Às 16h33 de 28 de outubro de 2003, os dois travaram diálogo sobre as pressões por mudanças nos cargos da Polícia Rodoviária no Rio. "O PT estava recebendo muita reclamação das empresas de ônibus", conta Fátima. "(Há) cobrança da Casa Civil para que se fizesse alguma coisa porque ele (Correa) estava contrariando interesses de empresas estabelecidas."

Fátima participa de todas as combinações e diz viajar freqüentemente a Brasília para tratar dos interesses da turma. Ela chega a liberar um caminhão em troca de quilos de lagosta e camarão.

É Fátima a interlocutora da única gravação na qual Jefferson aparece. No diálogo, interceptado às 15h36 de 24 de março do ano passado, ela conversa com o deputado do PTB sobre a estratégia para livrar o policial rodoviário federal Antão Batista Ferreira da exoneração. Antão foi acusado num sindicância interna de improbidade administrativa e seu processo chegou ao Ministério da Justiça.

Fátima sugere a Jefferson que ele ligue para o ministério e interceda. "Acho melhor você ligar, meu amor. Não quero queimar cartucho agora. Se precisar, eu reforço", responde o deputado. E emenda, cortando a conversa: "Meus telefones estão todos ruins." Logo depois, o policial Antão se aposentou.

Os diálogos também mostram que os afilhados de Jefferson se aproveitaram dos cargos para ajudar nas campanhas do PTB no ano passado. Num dos trechos, dois apadrinhados do deputado reclamam que ainda não receberam pagamento pelo aluguel de ônibus para as eleições. "Tô conseguindo com as empresas pela metade do preço. O Roberto me falou que vai honrar. Disse que quando chegar aqui vai dar um jeito", afirma Pinheiro, um dos policiais afilhados de Jefferson.