Título: Donos da Schincariol são libertados
Autor: Paulo Baraldi
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2005, Economia & Negócios, p. B3

Após dez dias, Polícia Federal soltou 66 detidos na Operação Cevada, mas a denúncia por sonegação ainda vai ser formalizada

A Polícia Federal liberou na madrugada de ontem os oito diretores da cervejaria Schincariol presos na Operação Cevada. Eles passaram dez dias na custódia da PF, em São Paulo. Outras 58 pessoas foram soltas com o término do prazo do mandado de prisão temporária. Dois acusados de envolvimento em um esquema de sonegação fiscal da cervejaria continuavam detidos ontem, um no Rio e outro em Foz do Iguaçu (PR). Em nota, a empresa disse que seu ex-gerente no Rio, Robinson de Almeida Pinto, estava preso irregularmente. Segundo a Schincariol, como a PF do Rio não possui carceragem, a custódia de Pinto foi entregue ao presídio Ari Franco, que exige alvará de soltura, mesmo com o término do prazo da prisão temporária.

O procurador do Ministério Público Federal José Maurício Gonçalves, do Rio, disse que em dez dias deve formalizar as denúncias de sonegação, lavagem de dinheiro e corrupção ativa. Segundo o procurador, o Ministério Público juntou provas suficientes para apresentar a denúncia também por formação de quadrilha. "Para mantê-los presos haveria a necessidade de provas e de um pedido de prisão preventiva", disse.

Os advogados da Schincariol anunciaram que vão entrar com representação junto ao Ministério da Justiça contra o tratamento que os presos receberam na PF. Também devem representar junto ao Ministério Público, Supremo Tribunal Federal e Supremo Tribunal de Justiça. Para eles, a PF tratou os dirigentes da empresa com "descaso, burocracia e exposição pública dos envolvidos".

Para o advogado da Schin, Roberto Podval, a ação dos policiais foi "lamentável por haver proveito de poder". Os advogados das 19 pessoas que estavam presas na custódia em São Paulo, assim como os jornalistas, foram proibidos de entrar no prédio durante a madrugada.

A liberação em São Paulo foi feita em dois turnos, às 3h30 e às 5h30. "Ficou claro o absurdo que foi a prisão temporária, pois todos foram ouvidos no primeiro dia", disse Podval. Segundo ele, a PF levou "fórmulas secretas e sacos de documentos da indústria". Ele vai agora estudar o inquérito. "Vou apurar o que é verdade nas denúncias e se a Schin tinha conhecimento dos fatos citados."

Receita e PF rebateram ontem as afirmações de que a deflagração da Operação Cevada haveria beneficiado sua concorrente, a AmBev. Em nota, a Schincariol questionou a prisão dos donos e diretores no dia em que fariam defesa oral no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) contra a fusão Interbrew/AmBev. A nota ainda acusa a Receita e Polícia de dar tratamento diferenciado à AmBev. Polícia Federal e Receita informaram que as detenções atenderam a uma decisão da Justiça. A direção nacional da PF considerou descabidas as alegações da Schincariol.

Na operação da PF e Receita Federal foram presas 68 pessoas, entre eles os donos da Schin e irmãos Adriano e Alexandre Schincariol, além de outros parentes. Segundo a Receita, a cervejaria sonegou R$ 1 bilhão nos últimos cinco anos.

Depois de liberados, os diretores da cervejaria foram para suas residências em Itu, a 98 quilômetros de São Paulo. Nenhum deles visitou a fábrica. Também não houve comemoração pelos 2,7 mil funcionários, que anteontem protestaram no centro da cidade contra a prisão.