Título: CPI investiga assessor de Dirceu
Autor: Fausto Macedo e Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/07/2005, Nacional, p. A5

Um enigma chamado Roberto Marques agita a CPI dos Correios, às vésperas do depoimento mais aguardado - o do deputado José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, que vai falar ao Conselho de Ética da Câmara terça-feira. Suposto beneficiário de R$ 50 mil, valor que teria sido sacado no Banco Rural em 16 de junho de 2004, Roberto Marques é um nome que a CPI rastreia com dificuldades porque dele não há outras referências, nem mesmo assinatura, endereço ou contatos. Há só uma coincidência: um assessor de Dirceu também se chama Roberto Marques, o Bob. "Não fiz saque nenhum, não fiz absolutamente nada", ele reagiu. "Nunca estive no Rural, estou sofrendo demais com tudo isso."

O nome aparece em uma autorização de saque enviada por fax do Rural de Belo Horizonte ao Rural em São Paulo, agência da Avenida Paulista. O documento autoriza "o sr. Roberto Marques" a receber a quantia de R$ 50 mil referente ao cheque número 414270 da empresa SMPB Comunicação Ltda. Outro papel transfere a autorização para Luiz C. Mazano. "É obrigação da CPI investigar todos os nomes", avisou a senadora Heloísa Helena (Psol-AL). Ela passou o dia de ontem trancada na sala-cofre do Senado, onde estão as caixas de documentos até agora reunidos, os papéis que indicam o esquema do mensalão no Congresso. "Roberto Marques é um nome comum, mas não podemos dizer que não é o assessor do Dirceu."

Da autorização nominal a Marques não consta seu número de identidade. Dois fax do Rural se referem ao cheque. No primeiro, de 15 de junho de 2004, o gerente de Belo Horizonte, Marcus Antônio Vasconcelos, solicitou ao da Paulista que pagasse o cheque 414270. Nenhum Roberto Marques compareceu. No dia seguinte, a autorização foi enviada em favor de Mazano, RG 89424530, de São Paulo.

Este RG pertence a um contador da corretora Bônus-Banval, que nega ter sido o sacador. A empresa faz investigação interna para saber se houve apropriação indevida de seus documentos por uma terceira pessoa. Entre os papéis de saque há uma assinatura da pessoa que se apresentou como Mazano, mas não há cópia da identidade comprovando.

NEGATIVA

Heloísa examinou documentos da operação e constatou que realmente não há número de RG de Marques. Para alguns parlamentares, a falta do RG no fax talvez indique que o sacador era tão conhecido que não era preciso exibir o número do documento. O criminalista José Luiz Oliveira Lima, que defende o ex-ministro, suspeita de armação. "É falso", declarou, com veemência. "Não é verdade que Bob esteve no Rural, não é verdade que tenha feito qualquer saque. Ele não tem qualquer relação com essa história. Estão querendo criar fatos mentirosos para prejudicar Dirceu."

"A única coisa que tinha no papel era o nome igual ao meu", desabafou Bob. "Não tenho nada com isso, apenas um nome comum. Fui ao Fórum João Mendes e verifiquei que existem 5 mil Roberto Marques protestados. Também não conheço nenhum Luiz Mazano."