Título: À espera do 'olho no olho' com ex-ministro
Autor: Ana Paula Scinocca e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/07/2005, Nacional, p. A5

Marcado para terça-feira, o depoimento do deputado José Dirceu (PT-SP), ex-ministro da Casa Civil, ao Conselho de Ética da Câmara promete ser uma acareação antecipada com o presidente licenciado do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ). Será a primeira vez que os dois vão se encontrar desde que Jefferson denunciou o mensalão do qual, diz ele, Dirceu é o mentor. O ex-ministro será testemunha no processo que investiga se Jefferson quebrou o decoro parlamentar. Com o depoimento ao conselho, Dirceu espera apresentar argumentos suficientes para evitar sua convocação na CPI dos Correios. Ele admitiu a petistas que pode perder o mandato e pensa em renunciar para não ser impedido de se candidatar em 2006.

"A punição de Dirceu é mais simbólica do que a de qualquer outro deputado, porque ele foi figura-chave no governo. Por isso, tem clara a possibilidade de perder o mandato, mesmo que não tenha aparecido prova concreta contra ele", diz um parlamentar do PT. Uma das tarefas de Dirceu é convencer o conselho de que não sabia da combinação feita pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o publicitário Marcos Valério para que o BMG e o Banco Rural dessem empréstimos ao PT. Após o depoimento da mulher de Valério, Renilda, à CPI, Dirceu foi obrigado a admitir que teve encontros com representantes dos bancos, mas negou ter tratado do assunto. Valério disse ao Ministério Público ter sido informado por Delúbio de que Dirceu sabia do esquema.

O réu Jefferson poderá fazer perguntas ao ex-ministro. Para se preparar para "o olho no olho com Dirceu" - como diz -, no qual "o Brasil vai conhecer o verdadeiro Dirceu", ficou com a família.

Assim como fez o PL, que foi ao Conselho de Ética contra Jefferson, ele entrará com representação não só contra o presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP), mas contra Dirceu e os deputados Carlos Rodrigues (PL-RJ), Sandro Mabel (PL-GO) e José Janene (PP-PR). Sobre o aceno do PL em retirar a representação, Jefferson responde: "Não faço acordo com vagabundos." Quando o conselho aceita uma representação, o deputado fica impedido de renunciar.