Título: João Paulo deve ser o primeiro a renunciar
Autor: Ana Paula Scinocca e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/07/2005, Nacional, p. A7

O deputado João Paulo Cunha (PT-SP), ex-presidente da Câmara, deverá ser o primeiro parlamentar ligado à lista de pagamentos das empresas do publicitário Marcos Valério de Souza a renunciar ao mandato. João Paulo estuda a possibilidade de apresentar uma carta de despedida nesta semana, quando deverá voltar a Brasília, após um período de reclusão no interior de São Paulo. A opção deve ser adotada num momento em que o próprio João Paulo reconhece que a sua situação é "insustentável". Ele pensa em abrir mão do mandato desde o dia 20, quando integrantes da CPI dos Correios revelaram que a sua mulher, Márcia Milanesio, sacou R$ 50 mil de conta da SMPB.

A situação do deputado, que tinha em seus planos disputar o governo de São Paulo em 2006, se agravou ainda mais porque ele mentiu à CPI. Apresentou à comissão a versão de que sua mulher esteve na agência do Banco Rural em Brasília, onde o saque foi feito, para resolver um problema no pagamento de uma conta de TV a cabo.

"Se ele não renunciar, provavelmente será cassado", avalia um colega de partido. Vários petistas têm demonstrado apreensão com a possibilidade de que outros saques envolvendo João Paulo apareçam nos próximos dias. "O que está ruim pode piorar", admite um deles.

Decidido a renunciar, João Paulo foi aconselhado a deixar Brasília e esperar alguns dias. Os responsáveis pela tarefa de demovê-lo da medida extrema, na ocasião, foram o ex-ministro da Casa Civil, deputado José Dirceu (PT-SP), e os senadores José Sarney (PMDB-AP) e Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado.

Agora, com o mandato praticamente perdido, ele tem dito que não vai "cair sozinho". O ex-presidente da Câmara teria ficado irritado com a tentativa da nova cúpula petista de articular um acordo com a oposição: João Paulo e Dirceu seriam rifados, ou seja, entregues à cassação em troca de um esfriamento da crise.