Título: Deputados pedem paciência com CPI
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/07/2005, Nacional, p. A9

A CPI dos Correios precisa de paciência, muita paciência - pedem parlamentares de todos os partidos. Esta semana, finalmente, ela parece ter encontrado seu eixo definitivo, depois de tatear, em seu início, premida pela velocidade dos fatos e pela mudança dos seus principais objetivos. "A população tem de ter paciência com a CPI", reclama o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR). "A população não quer pressa", constata a deputada Denise Frossard (PPS-RJ), "quer resultados". Todos se mostram satisfeitos com o trabalho de organização interna desta semana. "Era fundamental, vai funcionar de forma saudável", garante a senadora Ideli Salvatti (PT-SC). Ainda falta foco, suspeita o jovem deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). Já o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) explica que a CPI enfrentou pressões notáveis e a tentativa de uma operação abafa, conduzida, segundo ele, pelos bancos envolvidos nas operações financeiras denunciadas.

A CPI passou a semana se organizando. Afinou sua sintonia com a Polícia Federal e o Ministério Público, que vão assumir a continuidade das investigações dos casos de corrupção já descobertos. O Tribunal de Contas da União cedeu 100 auditores, que vão mergulhar nos contratos dos Correios. Para fechar o círculo, a Receita Federal está abrindo ações fiscais contra os principais envolvidos. "O elo vai se fechar. Esse conjunto de investigações vai funcionar", aposta Fruet.

Ele dá um exemplo de como a coisa vai funcionar: a Receita manda para a CPI a planilha de tudo o que entrou e saiu numa empresa suspeita; a CPI cruza os dados com a movimentação bancária dessas empresas. "A parte não declarada brota fácil", explica Fruet. Aí é só seguir a trilha do dinheiro até encontrar seus beneficiários. "Isso vai demorar um pouco. Por isso será necessário um pouco de paciência", diz ele.

SISTEMATIZAÇÃO

O trabalho de montar um sistema de trabalho para a CPI era cobrado por todos. "Nos primeiros passos, o essencial foi feito. Nós colocamos o mal à luz e galvanizamos a opinião pública. Enquanto isso, estruturamos a forma de trabalho da CPI", explica Dias, que alerta para a necessidade de um trabalho minucioso, à prova de armadilhas.

ACM Neto acha que, com a estrutura sistematizada, agora as tarefas deverão ser repartidas: ele sugere que a CPI dos Correios deve continuar a investigar a origem e o destino do que ele chama de "montante fabuloso de recursos", enquanto a CPI do Mensalão deve ficar com a apuração final dos parlamentares que receberam mesadas e auxílios financeiros para suas campanhas.

Frossard discorda: acha que a CPI dos Correios deve apurar até o fim e enviar suas conclusões para a outra CPI, de forma a não haver sobreposição. Para ela, a CPI teve de redesenhar o objeto da corrupção: começou a trabalhar para apurar o escândalo dos Correios e a investigação cresceu. "O fato é estanque, mas a prova é dinâmica", observa ela. "Os fatos conexos - e todos os fatos surgidos são conexos - têm de ser investigados na CPI dos Correios", defende ela.

"Acho que a segunda CPI poderia, perfeitamente, ser dispensada, agora que nós já temos o desenho do cenário de corrupção", reclama Dias. ACM Neto pensa que a divisão vai ajudar as duas CPIs a fechar suas conclusões de forma mais rápida e mais eficiente. Ele conta que recebe centenas de pedidos de explicação todos os dias e dá dezenas de entrevistas, tentando explicar o que muito pouca gente entende.

"Aqui mesmo no Congresso, tem muito parlamentar que não está na CPI e não está entendendo nada", exemplifica o pefelista. Todos dizem a mesma coisa: é tanto trabalho e tanto pedido de explicação que todos estão caindo de cansaço. Sexta-feira, no final do dia, a grande maioria dos membros da CPI deixou o Congresso e desligou seus telefones celulares.

PIZZA, NÃO

Denise Frossard, que participa de sua primeira CPI, diz ter encontrado lá um começo de ação partidária, logo substituída por um fenômeno que marca as CPIs: a pressão da sociedade e da imprensa é tão grande que os sentimentos corporativos e partidários se diluem. O membro da CPI, constatou ela, se submete a uma aura irresistível e passa a ser, não um parlamentar de partido, mas um parlamentar da Nação.

É esse sentimento que dá a ela a convicção de que não haverá pizza. Ela se assustou esta semana quando viu o presidente Lula alertar que a economia pode ser afetada, o PSDB ser afetado pelas denúncias e dizer que com ele é diferente, e o presidente do STF, ministro Nelson Jobim, pregar que o País pode ficar ingovernável. "Fica ingovernável se acabar em pizza", exalta-se ela. "Se sair um acordo, tô fora e vou denunciar", diz.

Salvatti vai mais além. Assegura que o novo coordenador político do governo, ministro Jacques Wagner, está trabalhando com a inevitabilidade de cassações no PT - "e está fazendo isso por orientação do presidente Lula", afirma ela. "Nós estamos convencidos de que a única alternativa que nos resta para restaurar o diálogo do PT com a sociedade é trabalhar pela punição de todos os culpados, sejam de que partido forem", diz a senadora.

Mas ela admite que esta semana foram detectados preocupantes sinais de um acordo para escalar previamente quem vai caminhar para o matadouro. "Vai existir a tentativa", certifica-se, garantindo que, para ela, tudo isso "é inimaginável".

Ela também pede que a CPI concentre suas investigações para descobrir e mapear os corruptores, não apenas os corrompidos. "Não podemos ficar na lista de parlamentares que receberam dinheiro. Temos de descobrir os esquemas empresariais que arrecadaram e financiaram esses pagamentos. Os corruptores são reincidentes. Se não forem pegos agora, em três anos estão de volta", adverte ela. Álvaro Dias concorda, mas não teme pelos resultados: ele lembra que o Congresso aprendeu a fazer CPIs e que a maior parte delas foi bem-sucedida.