Título: Pesquisa aproxima médicos de diagnóstico
Autor: Alexandre Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2005, Vida&, p. A26

Os resultados preliminares da pesquisa realizada pelo neurologista Adaílton Pontes com 14 crianças autistas pacientes do Instituto Fernandes Figueira (IFF), da Fiocruz, estão aproximando os médicos de um diagnóstico objetivo da síndrome. Até hoje, o autismo é detectado por meio de uma avaliação clínica que leva em consideração critérios aplicados à análise do comportamento dos pacientes. No entanto, a necessidade de diagnosticá-lo precocemente vai de encontro à pouca familiaridade dos pediatras com o assunto. "Falta uma política de saúde em que o pediatra tenha conhecimento das etapas do desenvolvimento e dos fatores de risco do autismo. Eles poderiam aplicar questionários sobre o comportamento das crianças que podem acender ou não o sinal vermelho e encaminhar para o tratamento", opina Pontes. Como esse cuidado não acontece de maneira uniforme, uma forma de diagnóstico objetivo poderia ajudar a reconhecer autistas cada vez mais precocemente.

No estudo, Pontes mediu, por meio de um eletroencefalograma, a atividade cerebral dos pacientes selecionados, entre 6 e 14 anos, mediante um determinado estímulo luminoso. O resultado preliminar mostra o que pode ser uma resposta padrão para os portadores da síndrome: as crianças autistas apresentaram uma ativação menor do hemisfério direito do cérebro. As respostas foram comparadas com os resultados de crianças normais da mesma faixa etária submetidas ao exame, que não têm a mesma reação.

Os bons resultados, no entanto, precisam ser confirmados por um estudo com uma amostra maior. "É um achado significativo do ponto de vista estatístico. Será sim, uma descoberta, se os resultados forem confirmados com a amostra maior, comparando com graus mais graves de deficiência do hemisfério direito e com portadores de outros tipos de transtornos mentais".

NEURÔNIOS

A novidade da pesquisa é que a localização da deficiência do cérebro dos autistas só havia sido demonstrada até agora com a ajuda de exames de imagem funcional, de custo muito alto. "A grande importância será a de que o eletroencefalograma é acessível em qualquer lugar do mundo e tem custo baixíssimo", ressalta o pesquisador.

O eletro detecta respostas imediatas dos neurônios, mas perde em localização. O que o médico do IFF fez foi usar o computador para agrupar as respostas dos neurônios pela freqüência e determinar a área, ainda que não tão precisa, afetada no cérebro.

"A medicina sempre procura a prova definitiva. Além disso, o diagnóstico tardio é danoso", afirma o pesquisador. "Quanto mais cedo o diagnóstico, melhor. O que buscamos é detectar no primeiro ano. O ideal é antes dos 3 anos, quando o tratamento produz resultados melhores. A criança que chega depois dos 5 anos tem um prognóstico diferente", alerta Pontes. "De um modo geral, aquelas que ainda não falam nada dificilmente desenvolverão a linguagem."