Título: Compadre de Lula vê o despejo com maus olhos
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/07/2005, Nacional, p. A13

A ata da última reunião do Conselho de Administração da Infraero, em 29 de junho, sob a presidência do vice-presidente da República e ministro da Defesa José Alencar, mostra que o advogado Airton Soares, um dos conselheiros, por indicação do presidente Lula, pediu providências para a retomada das áreas que a Transbrasil continua ocupando nos aeroportos e espaços contíguos. O Conselho deliberou, então, por unanimidade, "determinar que a Infraero prossiga nas ações judiciais visando a retomada das áreas da Transbrasil". Até agora, um mês passado, ainda não houve providência prática para cumprir a determinação do Conselho, vista com maus olhos pela Transbrasil de Antônio Celso Cipriani e seus advogados, entre eles Roberto Teixeira, amigo e compadre do presidente Lula.

Segundo a ata da reunião, Soares citou, para os demais conselheiros, o parecer mais recente do Ministério Público Federal: "É importante salientar que o impedimento à retomada das áreas ocupadas pela empresa apelante Transbrasil, que comprovadamente não possui condições de permanência no mercado, impede a concessão de áreas a outras empresas e gera prejuízo ao concedente Infraero." Presente à reunião, o assessor jurídico da procuradoria da Infraero, Mario Roberto Gusmão de Paes, informou que entendimento de sua área é o de que não há nenhum óbice jurídico que impeça a retomada das áreas e a abertura do processo licitatório para as demais companhias áreas.

A ata evidencia que a postura de Soares contraria o prolongado desejo protelatório da Transbrasil, até aqui satisfeito pela larga experiência jurídica do escritório Roberto Teixeira. Até a semana passada, Soares - expulso do PT em 1985 por ter votado em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral - era um forte candidato para ocupar a presidência da Infraero, cargo do qual está saindo Carlos Wilson, que vai concorrer às eleições de 2006.

Na segunda-feira, uma outra indicação entrou na disputa, a do funcionário de carreira Tércio Ivan de Barros, gerente de planejamento e gestão. O novo presidente do órgão, que tem orçamento de R$ 2 milhões para este ano, será escolhido na próxima reunião do Conselho de Administração, prevista para o começo de agosto.

Pesarão na balança, além da indicação do presidente da República, a posição da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. A Transbrasil deve à Infraero R$ 210 milhões, que estão sendo cobrados judicialmente. Ao entendimento da ata da última reunião do Conselho de Administração, deve, também, as áreas que está ocupando.