Título: Lembranças ainda emocionam sobrevivente
Autor: Angela Perez
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/07/2005, Nacional, p. A16

Sessenta anos depois das bombas de Hiroshima e Nagasaki, muitos sobreviventes, os hibakusha, tratam a tragédia com reserva. Muitos estão dispostos a relembrar o passado apenas se as suas identidades não forem reveladas. Um desses é S.M, de 73 anos. Falando baixinho e tropeçando no português, S.M. contou que era estudante e tinha apenas 13 anos quando Hiroshima foi atacada. Ele e os dois irmãos menores tinham sido enviados pelos pais, que temiam bombardeios em Hiroshima, para uma escola na área rural.

Naquela manhã de 6 de agosto de 1945, cerca de 200 crianças ouviam uma palestra quando, ao longe, ouviram uma explosão. Todos saíram do prédio e puderam ver o cogumelo sobre a cidade.

No dia seguinte, seus dois irmãos mais velhos que estavam em Hiroshima foram vê-lo e, como estavam muito feridos, S.M. percebeu que algo muito terrível tinha acontecido.

Em seguida, voltaram todos juntos para Hiroshima para procurar os pais, mas não encontraram ninguém. Sua casa estava destruída.

Procuraram por dias, até compreenderem que os pais estavam mortos.

Ainda hoje seus olhos se enchem de lágrimas ao lembrar da infrutífera busca e das cenas terríveis que presenciou e que não quer descrever.

Apesar de ele não ter sido exposto diretamente à explosão, S.M. é considerado um sobrevivente da bomba atômica como as outras pessoas que durante as duas semanas seguintes foram até a cidade em busca de parentes e foram expostos à radiação.

Em 1955 seu irmão mais velho decidiu ir para o Brasil, levando a família e os irmãos, em meio à campanha do governo japonês incentivando a imigração.

Para S.M., sua vida mudou com aquela explosão. "Se não houvesse a guerra e se não tivesse perdido meus pais, tudo teria sido diferente", lamenta. .