Título: Américas se unem para combater gangues juvenis
Autor: Joaquim Ibarz
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2005, Internacional, p. A19

Conhecidas na América Central como 'maras', elas ameaçam desestabilizar a região

MÉXICO México, Estados Unidos, Canadá e países da América Central fizeram uma reunião antigangues para enfrentar o crescente perigo das gangues de delinqüentes juvenis conhecidas como maras. Além de aprovar um plano antimaras, os países entraram em acordo para estabelecer em El Salvador uma academia internacional para capacitar a polícia na luta contra esses grupos. Nas conclusões finais dessa reunião sobre grupos de delinqüentes juvenis transnacionais, realizada em Tapachula, no Estado mexicano de Chiapas, pede-se que a Organização dos Estados Americanos (OEA) faça contatos com os países da região para facilitar a troca de informação e desenvolver um plano antigangues.

Agentes do FBI ( polícia federal dos EUA) vão se transferir para Chiapas a fim de estabelecer com o governo local programas conjuntos para enfrentar o problema das gangues juvenis. O FBI é o órgão encarregado de combater as gangues dentro do território americano.

Dirigentes de Belize, Canadá, Costa Rica, El Salvador, Estados Unidos, Guatemala, México, Nicarágua e Panamá destacaram que o fenômeno das maras se transformou em um fator de insegurança e mal-estar social em toda a região.

Steven Monblatt, diretor interino do Departamento de Segurança da OEA, advertiu que as forças de segurança de alguns países centro-americanos já foram superadas pelos violentos grupos juvenis organizados. Isso, segundo ele, torna "necessária uma resposta regional integrada".

Atendendo a esse alerta, no documento final de conclusões da reunião será ressaltado que o problema das maras deve ser enfrentado a partir de uma perspectiva ampla, com estratégias coordenadas em matéria de prevenção, reabilitação e aplicação da lei.

Na reunião de Tapachula concordou-se, da mesma forma, em estabelecer mecanismos para troca de informações sobre as quadrilhas juvenis em tempo real, já que disso dependerá a eficiência das ações que os países realizarão de maneira coordenada.

O plano antigangues prevê a aplicação de técnicas especiais de investigação, com cooperação internacional em matéria de proteção de testemunhas e vítimas. Só nos últimos anos, foram detidos no Estado de Chiapas (que faz fronteira com a Guatemala) 1.200 integrantes da gangue Mara Salvatrucha (que deu origem ao termo) por homicídios, assaltos, violações, extorsão e agressões. Dos detidos, 600 aguardam julgamento ou cumprem pena.

Procurando referendar a unidade regional, o presidente de El Salvador, Tony Saca, pediu ao México e EUA uma estratégia comum de combate ao "perigo representado por essas gangues". "As maras se transformaram em um problema regional e El Salvador quer combatê-las com mão de ferro", disse Saca.

Diferentemente da Guatemala - onde os membros do Mara Salvatrucha garantem sua subsistência com a cobrança de "imposto de guerra" -, na costa de Chiapas algumas gangues estão envolvidas com o tráfico de drogas e de imigrantes sem documentos que procuram chegar aos Estados Unidos.

Guatemala, El Salvador e Honduras criticaram a deportação de membros de gangues pelos EUA. Sustentam que os jovens voltam para seus países de origem sem relatórios policiais dos EUA sobre os delitos que cometeram. E imediatamente se unem aos bandos que assolam a região.

"O fluxo dos deportados desestabiliza os projetos de desenvolvimento desses países. Em 2004, a Guatemala recebeu 92 mil deportados do território americano. Em El Salvador o fluxo mensal é de 5 mil deportados", assinalou o padre salesiano José Moratalla, reconhecido por seu trabalho à frente do centro de reabilitação mais bem-sucedido e antigo de El Salvador. "As maras são piores que a guerra civil. Agora, o problema da violência é maior que o da guerrilha e dos paramilitares que assolaram a América Central. Nos anos 1980, lutava-se por um ideal, mas agora o ideal não existe. As maras podem ser uma bomba-relógio que desestabiliza a região como as revoluções dos anos 80, que não trouxeram nenhuma solução, pois o problema de pobreza e desigualdade continua o mesmo", alertou o padre Moratalla.