Título: 'Pedidos de preferência são normais'
Autor: Lourival Sant'Anna
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2005, Internacional, p. A16

Desembargador confirma que intercede em favor de seus amigos advogados

O desembargador Dirceu de Almeida Soares negou que tenha cometido qualquer irregularidade. "Pedidos de preferência são normais entre juízes", disse ele. "Nós, desembargadores, recebemos muitos pedidos e de vez em quando telefonamos, quando vemos que a coisa é difícil, tem que ser resolvida, pelo bem da própria Justiça." Soares confirmou os vínculos com os advogados citados: "Todos são meus amigos. Quem me pede isso só pode ser meu amigo." Segundo ele, até mesmo a insistência para os juízes informarem aos advogados que o desembargador lhes havia pedido para atendê-los é algo normal. "É para defender o próprio juiz", explica. "Para não ir lá e começar a dar de dedo no juiz e dizer que tem que fazer isso, tem que fazer aquilo. Se o juiz falar: 'O dr. Dirceu telefonou para mim', a pessoa só vai pedir o que pediu para mim, não vai aumentar."

Referindo-se às queixas dos juízes, o desembargador diz que "eles relataram da maneira que os mandaram relatar". Soares não quis especular sobre quem fez essa "armação" contra ele. Mas admitiu que há uma disputa política feroz no interior da Justiça Federal gaúcha.

Ele apontou como seu principal rival o desembargador Vladimir Passos de Freitas, que presidiu o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, em Porto Alegre, até segunda-feira. Freitas tinha expectativa de se tornar ministro do STJ, no ano passado. Não foi apoiado pelos deputados paranaenses, liderados por José Janene, do PP, e José Borba, do PMDB, ambos clientes de Roberto Bertholdo, um dos advogados citados pelos juízes. "Ele acha que fui eu que atrapalhei", diz Soares. Outra disputa interna se refere a instalar ou não uma sede da Justiça Federal em Curitiba. Soares é a favor; Freitas, contra.

O desembargador se queixa da condução do processo. "Não tive direito a ampla defesa", conta o desembargador. "Não pude acompanhar os depoimentos dos juízes." Mas, segundo ele, dos 27 desembargadores da 4.ª Região, 23 já votaram pelo arquivamento do caso. E dois dos sete juízes já se teriam oferecido para se retratar. De qualquer maneira, conclui o desembargador, de 64 anos, "se tivesse cometido algum ilícito, já estaria prescrito". Para esses casos "administrativos", o prazo é de dois anos. "Eles sabem que já prescreveu", diz o desembargador, referindo-se a seus inimigos. "Como não me derrubaram, lhe passaram isso."