Título: Ministra quer manter ministério de Aldo
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2005, Nacional, p. A4

Lula havia decidido extinguir Coordenação Política, mas pode voltar atrás

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi aconselhado a manter o Ministério da Coordenação Política, hoje ocupado por Aldo Rebelo, mas ainda espera a definição do PMDB para fechar o quebra-cabeça da reforma. Uma das defensoras dessa idéia é a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Em reuniões no Planalto, ela já avisou que não concorda com a extinção da pasta de Aldo, pois seria obrigada a receber de volta a Secretaria de Assuntos Parlamentares. "Até onde eu sei o Ministério da Coordenação Política está mantido", afirmou Dilma. "A idéia é manter o Ministério da Coordenação Política de um lado e a chefia da Casa Civil de outro. Serão diferentes instituições, mas que terão de trabalhar de forma estreita. É uma divisão de trabalho."

Em fevereiro de 2004 a Secretaria de Assuntos Parlamentares foi o pivô do escândalo que derrubou Waldomiro Diniz, o assessor da Casa Civil flagrado pedindo propina a um empresário do jogo. Detalhe: todas as indicações de cargos e negociações de emendas de deputados e senadores, com liberação de verbas, passam pela Secretaria de Assuntos Parlamentares.

Com o agravamento da crise provocada pelas denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre o pagamento de mesada a parlamentares, o núcleo político do governo se dividiu: alguns ministros acham que é preciso blindar o Planalto, retirando a Coordenação Política de lá e transferindo esse trabalho para os líderes no Congresso. Outros avaliam que, na prática, isso não é viável.

Se o ministério for mantido, há duas possibilidades: continuar sob o comando de Aldo ou ser administrado por Jaques Wagner, titular do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Lula também estuda a possibilidade de fundir a estrutura do "Conselhão" de Wagner com a Coordenação Política.

Ainda ontem, um interlocutor de Lula disse ao Estado que ele ficou muito aborrecido com a divulgação da notícia de que Wagner substituiria Aldo, já que não foi batido o martelo. O "vazamento" provocou situação constrangedora.

Aldo e Wagner trabalham lado a lado, no 4.º andar do Planalto. São vizinhos de gabinete. Na sexta-feira, Aldo saiu de sua sala e foi procurar o colega. Os dois conversaram de 12h30 às 13h05, no gabinete de Wagner. À saída, perguntado se haviam acertado os ponteiros, o chefe da Coordenação Política - dono de temperamento afável - procurou amenizar o problema. "Não há divergência entre nós. Pelo contrário, somos camaradas. Jaques Wagner, inclusive, já foi do PC do B", comentou.

Wagner também adotou o tom de distensão. Disse considerar "natural" a resistência de setores do PMDB à sua indicação e repetiu que está à disposição de Lula para qualquer tarefa. Na sexta-feira, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que o melhor para o governo seria fazer a articulação política "do Congresso para o Planalto, e não o contrário".