Título: Dilma prepara o desmonte da estrutura de Dirceu na Casa Civil
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2005, Nacional, p. A4

O alvo prioritário são os 33 grupos de trabalho no Planalto; ministra promete "acelerar a morte natural desses grupos"

BRASÍLIA - A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, planeja uma revolução na pasta que já foi a mais poderosa do governo Lula. Ela pretende enxugar a estrutura herdada de seu antecessor, apressando o fim dos grupos de trabalho em andamento e reduzindo as atribuições da pasta - muito ampliadas durante a passagem de José Dirceu pelo Palácio do Planalto. A ministra e sua equipe ficaram impressionados com a grandiosidade da estrutura montada na Casa Civil e a comparam a um polvo, com ramificações em todas as áreas possíveis. O alvo prioritário são mesmo os 33 grupos de trabalho em funcionamento no Planalto, conhecidos como GTs. "O que vou fazer é acelerar a morte natural desses grupos", disse a ministra ao Estado. Na sexta-feira, três dias depois de assumir o cargo, Dilma deu mostras de como será sua atuação. Encerrou o trabalho de um dos GTs: o que estudava a quebra de patente de um dos medicamentos usados contra a aids.

Dilma contou como vão funcionar esses grupos a partir de agora. "O GT terá um projeto, cumprirá o projeto e se dissolverá, acabará, como este que acabou", disse, ao anunciar que vai estabelecer um calendário rigoroso para que vários dos grupos já instalados apresentem resultados. "O que nós vamos fazer aqui é ver quais são os grupos de trabalho. Para os de vida curta, vamos dar um prazo para finalizar o projeto. Os de vida mais longa, vamos acompanhar e criar um cronograma mais específico para eles concluírem seus trabalhos."

Em alguns casos, observou, um GT não chegará nem a existir formalmente, durando uma ou duas reuniões. Ela reconheceu, entretanto, que outros grupos, por lidar com problemas mais complexos, poderão exigir mais tempo, como o do biodiesel, instalado no fim de 2003 e encerrado quase um ano depois, depois de estabelecer regras capazes de permitir a integração do combustível à matriz energética do País.

Ao falar publicamente da herança deixada por seu antecessor, Dilma é cautelosa. Questionada se tinha se surpreendido com o tamanho da estrutura, respondeu que não, mas ressalvou: "Acho que sempre pode melhorar." "Não posso dizer que cheguei aqui e descobri a pólvora. O próximo ministro vai poder chegar aqui e melhorar mais, se eu fizer um bom trabalho." Nos bastidores, ela tratou de preparar a saída dos assessores mais identificados com Dirceu, entre eles o secretário-executivo Swedenberger Barbosa - que se despediu ontem dos colegas - e o subchefe de Assuntos Jurídicos, José Antônio Toffoli.

POSTOS DE CONFIANÇA

O processo de enxugamento elaborado por Dilma - que ontem se reuniu com os técnicos, no Planalto - prevê a saída da Casa Civil das atividades de caráter eminentemente político. A primeira delas será a coordenação das nomeações para os postos de confiança na administração federal - os cargos de assessoramento superior, conhecidos pela sigla DAS. Nos tempos de Dirceu, essa atribuição permitiu à Casa Civil assumir a linha de frente da negociação do Planalto com os partidos aliados.

Dilma também não quer a tarefa de lidar com deputados e senadores no dia-a-dia, com a justificativa de que "isso tem mais a ver com articulação política". Ela, aliás, tem sugerido ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que a reforma ministerial preserve a Secretaria de Coordenação Política, que ficaria encarregada de cuidar da liberação de recursos para atender às emendas feitas por parlamentares ao orçamento.

Sob o comando de Dilma, a preocupação principal da Casa Civil será o acompanhamento dos projetos tocados pelas diversas áreas do governo. A recomendação de Lula, ela não pára de salientar, é "aumentar o grau de eficiência da máquina".