Título: Tamanho da reforma divide o governo
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2005, Nacional, p. A6

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, é um dos que pregam medidas mais duras: da aglutinação de ministérios à tesourada nos cargos em comissão, batizados de DAS - sigla que virou sinônimo de apaniguados. Uma das idéias é obrigar que um pedaço dos 19.202 cargos de confiança seja destinado a funcionários de carreira para evitar o loteamento político. Outra é promover o casamento de pastas que já estiveram juntas num passado não muito distante para ressuscitar o Ministério da Infra-Estrutura. "Isso não vai acontecer", afirmou o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, dono de futuro indefinido na reforma. "Essa é uma idéia antiga no governo, mas, que eu saiba, não está em debate agora", completou o ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, outro que poderá retornar à Câmara com as mudanças previstas por Lula, já que é deputado licenciado.

Bem-humorado, o titular dos Transportes, Alfredo Nascimento, disse nunca ter ouvido falar na "diluição" de seu ministério, que seria absorvido pela nova Infra-Estrutura. "Será que eu vou ficar desempregado?", perguntou ele, em tom de brincadeira.

Paulo Bernardo tem atuado em dobradinha com o colega Antonio Palocci Filho, da Fazenda, mas guarda em segredo a reestruturação planejada. Admite apenas que será adotado um sistema de acompanhamento dos programas de infra-estrutura, hoje espalhados pela Esplanada, provavelmente no Planejamento.

APAGÃO

Na prática, desde a gestão de Guido Mantega - atualmente no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - o Planejamento municia Lula com análises sobre enxugamento de cargos e racionalização da burocracia.

"Eu não entro nesta conversa fácil de que vamos enxugar o Estado", disse a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. "Depende do que é preciso enxugar. Achar que reduzir, desbastar, acabar com funcionário resolve o problema dá é em apagão, dá em racionamento, dá o fim do planejamento."

Da turma desenvolvimentista, Dilma pretende ser o ponto de equilíbrio na disputa entre os ministros políticos e seus colegas da economia. "Concordo plenamente em enxugar o excesso, a ineficiência, em acabar com as distorções. Mas achar que Estado mínimo resolve não dá. Não é assim", insistiu.

Há apenas seis dias na Casa Civil, Dilma contou que, quando assumiu o Ministério das Minas e Energia, no início do governo Lula, em 2003, encontrou "um engenheiro, 50 motoristas e zero de economista". Ficou horrorizada.

"Precisa haver planejamento a longo prazo", argumentou a ministra, citando o departamento de energia dos Estados Unidos, que tem um plano para 30 anos. "Também não concordo com a vinculação entre cargos de confiança e efetivos para apurar quem é ou não corrupto. Até porque todas as recentes acusações se concentraram mais em funcionários de carreira, não nos que ocupam cargos em comissão."

Na semana passada, Lula mandou um interlocutor avisar à titular de Política para Mulheres, Nilcéia Freire, que nada aconteceria com a sua secretaria. "Fique tranqüila e continue trabalhando normalmente", disse ele. Poucos dias depois, em reunião com representantes dos movimentos sociais, o presidente reiterou que as secretarias não seriam extintas. Mas, em conversas reservadas, ministros da área econômica garantem que as cinco pastas que se encaixam nesse figurino perderão o status de ministério e serão "abrigadas" na Secretaria-Geral da Presidência, sob o comando de Luiz Dulci.

Interlocutor dos dois grupos, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), resumiu a queda-de-braço com um diagnóstico que reflete o tamanho da dúvida. "Se houver, essa reforma administrativa só será fechada quando a parte política estiver fechada. Primeiro, temos que consolidar o acordo com o PMDB", disse ele. Quem viver verá.