Título: Dossiê revela feudo nos Correios
Autor: Vasconcelo Quadros
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2005, Nacional, p. A8

Marinho deixou para a CPI roteiro de 364 páginas que apontam como a estatal foi divida entre os partidos e 14 contratos suspeitos

BRASÍLIA - O dossiê deixado pelo ex-chefe de departamento Maurício Marinho na CPI dos Correios é um roteiro para a comissão investigar o feudo de negócios operado pelos partidos políticos que passaram a comandar a estatal e seu orçamento de R$ 7,6 bilhões anuais no governo Lula. Marinho, que foi filmado recebendo propina, listou 14 contratos suspeitos e separou todos os negócios da estatal em sete grupos, distribuídos entre diretores indicados por três partidos - PMDB, PT e PTB. Controlada pelo PMDB, a presidência era ocupada por João Henrique de Almeida Souza, indicação do deputado Michel Temer (PMDB-SP). A ela está vinculada a área de propaganda e o relacionamento com as agências de publicidade, cujos contratos executados nos dois anos e meio do governo Lula passaram pelo crivo do ministro Luiz Gushiken, da Secretaria de Comunicação, e serão investigados. Também eram da responsabilidade do presidente da estatal os patrocínios, consultorias, prestação de serviços, segurança postal e eventos.

Marinho disse que a Diretoria de Tecnologia é a mais importante em volume de negócios - algo em torno de R$ 2 bilhões, mais de 60% das compras dos Correios. A área era tocada por um funcionário de carreira, Eduardo Medeiros, promovido por influência direta do secretário-geral do PT, Silvio Pereira. A lista de produtos negociados é imensa: hardware, software, desenvolvimento de sistemas, obras de engenharia, rede corporativa, projetos de soluções tecnológica, etc. A Tecnologia ensejaria disputa acirrada entre os grupos políticos e estaria no centro dos interesses que culminaram com a gravação do depoimento de Marinho e a revoada de arapongas sobre os Correios - ligados direta ou indiretamente à Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

A participação da Abin no episódio será mais investigada nos próximos dias na CPI. A versão que resultou da primeira rodada de depoimentos à CPI aponta para uma espionagem encomendada pelo empresário Arthur Waschek, motivado por interesses comerciais feridos. Mas há suspeitas de que a finalidade da gravação seria política.

Também sob a influência de Silvio Pereira, que indicou para a função outro funcionário de carreira, Maurício Coelho Madureira, a Diretoria de Operações é outra gigante de negócios. Cuida dos transportes, compra de veículos, máquinas e equipamentos postais, mão-de-obra temporária, etc.

Além da presidência, o PMDB ocupava ainda três diretorias: a Financeira, por Ricardo Cadah, a Recursos Humanos, com Robson Couri, suplente do senador Ney Suassuna, e a Comercial, entregue a Carlos Eduardo Fioravante, suplente do senador Hélio Costa (MG), responsável, entre outras áreas, pela rede de atendimento, que tem a atribuição de conceder ou não as franquias - Marinho sugeriu que a CPI investigue essas concessões. Pela Diretoria Comercial passa ainda o Banco Postal. Nas diretorias de Recursos Humanos e Financeira, o PMDB administrava ainda entrada e saída de dinheiro e todos os produtos relacionados aos funcionários. O PTB do deputado Roberto Jefferson era dono da Diretoria de Administração e, teoricamente, era o que ocupava menos espaço no conjunto de interesses financeiros loteados entre os partidos.