Título: Inflação assusta Argentina. De novo
Autor: Ariel Palácios
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/08/2005, Economia & Negócios, p. B8

A inflação, fantasma que durante décadas assolou a mente e os bolsos dos argentinos, está de volta. Ela está, de forma quase unânime, sendo indicada como a culpada pelo esfriamento do consumo, que estava apresentando uma tênue recuperação nos últimos meses. Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) indicam que as vendas nos supermercados caíram 1,9% em junho em relação a maio, principalmente pela disparada nos preços dos alimentos. Nos shoppings, que haviam registrado alta nas vendas, o mês de junho também teve redução, de 0,1%. A Câmara Argentina do Comércio (CAC) anunciou ontem que 70% dos comerciantes afirmam que as vendas não registraram crescimento em julho. Segundo 40,5% dos entrevistados, as vendas permaneceram estáveis, enquanto que para 30,3% registraram queda. Apenas 29,2% dos estabelecimentos comerciais afirmam que tiveram aumentos em suas vendas. O esfriamento do comércio está azedando o humor dos argentinos em relação ao governo do presidente Néstor Kirchner, que está em plena campanha para as decisivas eleições parlamentares de outubro.

NUVEM

O presidente argentino foi eleito com 22% dos votos em 2003. Essa baixa proporção pairou como uma nuvem sombria sobre os dois anos de administração já transcorridos. Por esse motivo, o próprio Kirchner anunciou que as eleições de outubro servirão como plebiscito de sua gestão. Elas definirão o mapa do poder na Argentina pelos próximos dois anos que servirão de termômetro social para verificar se Kirchner tem ou não chances de se candidatar à reeleição em 2007.

Nos primeiros seis meses deste ano a inflação acumulou uma alta de 6,1% em relação ao mesmo período de 2004. Para julho, as previsões indicam que ficaria entre 1% e 1,5%. No início do ano o governo do presidente Néstor Kirchner havia previsto que a inflação até dezembro acumularia uma alta de 8% a 10,5%. Mas, o próprio Banco Central, em sua última avaliação, calculou que será de 11% em 2005. A maioria dos analistas é mais pessimista e aposta que a inflação vai superar 13%.

A escalada da inflação tira o sono de Kirchner , já que a alta dos preços reduz sua popularidade e o volume de votos. Essa irritação é acentuada entre os integrantes da classe média, pois a cada aumento de 1% na inflação, 150 mil argentinos desse nível social descem à categoria de pobres e outros 90 mil pobres viram indigentes.

No meio da polêmica da alta da inflação, o governo Kirchner acusa os empresários de supermercados de aumentarem os preços de forma irresponsável. Desde o início da semana, o clima é de tensão entre a União Industrial Argentina (UIA) e o Ministro da Economia, Roberto Lavagna, que pediu aos empresários que tenham prudência na hora de remarcar preços.

Mas tanto a UIA como a Associação de Supermercados Unidos (ASU) acusam o governo de ter provocado a espiral inflacionária com aumentos salariais determinados por decreto, elevação do salário mínimo e as aposentadorias. Nos últimos dias, Kirchner ameaçou aplicar multas e novos impostos aos empresários que remarcarem preços sem justificativas .