Título: Crise política é o foco das atenções
Autor: Tom Morooka
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/08/2005, Economia & Negócios, p. B4

Semana com agenda recheada de depoimentos tem como destaque o do ex-ministro José Dirceu, amanhã, no Conselho de Ética

O mercado financeiro retomou o clima de aparente calmaria nos últimos dias, mas não baixou a guarda em relação à crise política. Pelo contrário. Tende a reforçar a prontidão nesta semana, a primeira de agosto, porque tem pela frente agenda carregada de depoimentos em várias comissões da Câmara. O mais aguardado é o do ex-ministro da Casa Civil e deputado José Dirceu, amanhã, no Conselho de Ética. Pela primeira vez, o ex-ministro deve responder às acusações do deputado Roberto Jefferson de que ele não só tinha conhecimento, como também participava do esquema de pagamento do mensalão. Na quarta-feira, o deputado Roberto Jefferson depõe na CPI do Mensalão e Simone Vasconcelos, diretora-financeira da empresa SMPB, de Marcos Valério, na CPI dos Correios.

A expectativa em relação aos depoimentos pode alimentar instabilidade no mercado, mas a sensação de esfriamento da crise, principalmente pela redução de ataques ao presidente Lula, pode suavizar o clima de nervosismo. "As notícias políticas saíram um pouco de foco, mas ainda preocupam os mercados", comenta a economista Carla Bernardes, da Modal Asset Management (MAM).

Se o fator para a tomada de decisão forem apenas os indicadores econômicos, os mercados podem dar continuidade à valorização da bolsa e ao recuo do dólar, além de reforçar as previsões de que o Banco Central inicie o ciclo de redução do juro em setembro ou outubro.

Entre os dados mais importantes da semana, Carla destaca a divulgação, hoje, do saldo da balança comercial de julho e a Pesquisa Focus com as estimativas de inflação pelo IPCA, que devem registrar novo recuo. "A redução, desta vez, deve ser marginal, porque o IPCA de julho vai refletir o reajuste da tarifa de telefonia." O IPCA que sai na próxima semana está projetado pela Modal em 0,28%. O impacto do reajuste da telefonia deve ficar fora do IPC-Fipe de julho, que será conhecido na quarta-feira - o aumento, explica Carla, será captado pelo IPC da Fipe apenas quando for paga a conta. Outro dado é o referente ao fluxo cambial de julho.

Na quinta, será divulgado o IGP-DI de julho, que deve apontar nova deflação, estimada pela Modal em 0,20%. No mesmo dia, serão divulgados os dados da Anfavea sobre a produção e venda de veículos em julho, um indicador que dá boa estimativa da produção industrial de julho, comenta Carla. Os dados da produção industrial de junho serão anunciados pelo IBGE na sexta-feira e "devem apontar crescimento significativo em relação a maio".

Atrai interesse ainda a divulgação de vários indicadores de atividade econômica dos EUA, porque o Federal Reserve (Fed, banco central americano) se reúne dia 9 para decidir o rumo dos juros de curto prazo. O mais aguardado é o relatório de emprego, com dados referentes ao desemprego e à criação de novas vagas de trabalho, que será divulgado na sexta.