Título: Rio faz cirurgia cardíaca com células-tronco
Autor: Chico Siqueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/08/2005, Vida&, p. A14

Estudo médico nacional avança em sua fase clínica com procedimento realizado em pacientes vítimas de enfarte

Médicos do Hospital Pró-Cardíaco, do Rio, fazem nesta semana a primeira cirurgia com uso de células-tronco adultas em paciente vítima de enfarte por meio de um estudo nacional de terapia celular, patrocinado pelo Ministério da Saúde. O procedimento é o último que faltava para o trabalho iniciar sua fase clínica em todas as doenças graves do coração pesquisadas - cardiopatia chagásica, cardiomiopatia dilatada, isquemia crônica e enfarte agudo do miocárdio.

Por isso, segundo o coordenador nacional do estudo, Antônio Carlos Campos de Carvalho, a partir de agora as pesquisas devem ganhar mais velocidade. "A nossa expectativa é de que agora o estudo vai deslanchar porque todas as instituições conveniadas poderão realizar os procedimentos por conta própria", afirmou.

Segundo ele, até agora todos os centros âncoras do programa, no Rio, São Paulo e Bahia, tiveram de passar por sessões para esclarecimentos dos profissionais e verificação das condições técnicas e científicas dos lugares onde os procedimentos seriam feitos.

Nas outras três cirurgias, feitas no dia 10 de junho no Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras (INCL), no Rio, no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, e no Hospital Santa Isabel, em Salvador, houve a necessidade de avaliação dos procedimentos, como acontecerá agora no Rio. "É lógico que isso demanda tempo, mas tivemos de nos certificar de que não havia restrição alguma aos participantes", disse.

Segundo Campos, após o procedimento desta semana, todos as 33 instituições médicas participantes do estudo, em nove estados e DF, poderão realizar os procedimentos com 1,2 mil pacientes, previstos para serem atendidos pelo estudo, de forma independente. "Não haverá mais a necessidade de esclarecer dúvidas e fazer a checagem, todas as instituições sabem dos protocolos a serem feitos, o que deverá apressar a realização de cirurgias e aplicações de células-tronco pelo estudo em todo o País."

De acordo com o diretor-científico do Pró-Cardíaco, Hans Dohmann, o hospital já realizou dois procedimentos de para recuperação de enfarte fora do estudo do ministério. O paciente a ser estudado deverá ter sido vítima de um enfarte no máximo 48 horas antes da seleção, e será submetido a uma angioplastia para reparar um vaso sanguíneo deformado.

MAIS UM GRUPO

Até agora, 15 pacientes em todo o País receberam células-tronco pelo programa, chamado de Estudo Multicêntrico Randomizado de Terapia Celular em Cardiopatias.

Segundo Campos, o próximo passo será lutar para incluir um grupo de doentes cardíacos, formado por pós-isquêmicos, que ficou fora das pesquisas. "Eles possuem insuficiência cardíaca por problemas isquêmicos e não precisam passar por cirurgia."

De acordo com Campos, o Ministério da Saúde deverá ser consultado nos próximos meses sobre a inclusão desses pacientes. "É um grupo considerável, que precisa ser atingido."

NÚMEROS

Excetuando os transplantes de medula - praticados há 40 anos -, a área de cardiologia é hoje a que concentra maior número de pacientes que receberam células-tronco em aplicações e cirurgias de pesquisas no País. No total, 185 pacientes passaram pela terapia celular, 141 em procedimentos cardíacos, sendo 15 deles por meio do estudo governamental. Outros 44 pacientes receberam células-tronco para o tratamento de outras doenças, como trombose e diabetes. Todos os procedimentos são ainda experimentais.