Título: Sem opção, PF fica com Beira-Mar
Autor: Gilse Guedes e Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2005, Metrópole, p. C1

O traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, foi transferido ontem do presídio de Presidente Bernardes (SP) para a carceragem da Superintendência da Polícia Federal de Brasília. Ele poderá ficar de 30 a 90 dias na capital federal, período em que o Ministério da Justiça tentará negociar com governadores a ida do criminoso para algum presídio estadual. Até ontem, seis governos estaduais haviam rejeitado a proposta de receber Beira-Mar em suas penitenciárias, alegando não haver acomodação segura o suficiente para um preso com esse perfil. É que Beira-Mar, além de ser um dos maiores traficantes do País, tem um histórico de provocar problemas por onde passa. Na primeira vez em que ficou na Superintendência da PF em Brasília, de 2001 a 2002, Beira-Mar teria liderado um motim por causa de uma rixa com o traficante Marcelo Borelli, que teve de ser transferido. Em 2002, em Bangu 1, no Rio, foi o cabeça de uma rebelião que destruiu o presídio.

Como medida preventiva, foi reforçada a segurança em volta do prédio da Superintendência da PF e a circulação de pessoas será restrita. Ontem, o superintendente da PF, Daniel Sampaio, teve até mesmo de transferir três outros traficantes para outra prisão a fim de evitar problemas. Além disso, haverá maior rigor no acesso de pessoas ao setor de emissão de passaportes.

Beira-Mar ficará em uma cela individual de 30 metros quadrados e terá direito à visita semanal de parentes. Ele não terá contato com os demais presos e ficará isolado durante as duas horas de banho de sol.

Para o deslocamento de Presidente Bernardes a Brasília, foi montado um forte esquema de segurança, pelo temor de que houvesse uma tentativa de resgate de Beira-Mar. Quatro policiais federais do Comando de Operações Táticas (COT), grupo de elite da PF, foram para São Paulo e escoltaram o bandido na viagem.

Beira-Mar foi transportado de helicóptero do hangar da PF no aeroporto do Distrito Federal até a superintendência. Mais dois helicópteros com outros agentes fizeram a escolta do traficante.

No fim da tarde, o Ministério da Justiça divulgou nota para dizer que a transferência do traficante para Brasília faz parte da política de colaboração com os Estados. Isso porque o governo federal só decidiu participar das negociações sobre o destino do traficante porque o governo do Rio não quer a permanência de Beira-Mar no Estado.

Ontem, a advogada do traficante, Cecília Machado Gomes, esteve na PF, mas não conseguiu contato com o cliente. Ela não vê problema em Beira-Mar ficar temporariamente em Brasília. "Defendo que ele vá para um presídio onde possa cumprir pena e receber sua família como qualquer preso", afirmou. Segundo ela, Beira-Mar foi condenado a 33 anos de prisão, total de duas penas definidas pela Justiça do Rio e de Belo Horizonte por tráfico de drogas e assassinato. Cecília queria que seu cliente cumprisse pena no Rio, mas o Superior Tribunal de Justiça rejeitou um recurso apresentado por ela.