Título: Brasil tem êxito na operação de troca dos C-Bonds
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2005, Economia & Negócios, p. B3

Numa megaoperação financeira concluída ontem, o governo conseguiu retirar do mercado internacional US$ 4,4 bilhões em C-Bonds, o mais famoso título da dívida externa brasileira. Esses papéis são resquícios da moratória da dívida externa decretada pelo Brasil no final dos anos 80, tendo sido emitidos na reestruturação da dívida. Em troca dos C-Bonds, o Tesouro Nacional lançou um novo título, chamado A-Bond, com vencimento em 2018. A operação foi considerada um sucesso porque o Tesouro conseguiu, com a troca dos papéis, adiar os pagamentos da dívida externa em 3,75 anos. Os C-Bonds teriam vencimento até 2014 e os A-Bonds, em 2018. A cada ano de adiamento, o Tesouro economizará aproximadamente US$ 1,5 bilhão em juros e amortização.

Essa folga é bem-vinda porque 2006 e 2007 são anos de forte concentração de pagamentos da dívida externa. "É como se tivéssemos feito uma emissão de US$ 1,5 bilhão para a rolagem da dívida", afirmou o secretário-adjunto do Tesouro, José Antonio Gragnani.

Para os investidores, a principal vantagem foi se livrar de um papel que podia ser recomprado pelo Tesouro se a cotação alcançasse 100% do valor de face.

O direito de recompra, ou call, podia ser exercido pelo Brasil a cada seis meses e vinha atrapalhando a valorização do papel. Além disso, por ser um título originado da moratória, os C-Bonds não podiam ser comprados por fundos de pensão. O A-Bond não tem esses problemas.

O valor da troca correspondeu a 78% dos US$ 5,6 bilhões de C-Bonds que estava nas mãos dos investidores. Restaram ainda no mercado cerca de US$ 1,2 bilhão nesses papéis, parte deles nas mãos do Banco Central e do Banco do Brasil, que, pelas regras da operação, não puderam participar da troca. Responsável pela administração das dívidas interna e externa, Gragnani comemorou a troca. "Foi um sucesso. Houve uma boa aceitação", disse ele, de Nova York, onde acompanhou a operação conduzida pelos bancos JP Morgan e CSFB, iniciada na segunda-feira. Para ele, o êxito da operação se deve a dois fatores principais: a simplicidade do novo título, que é igual ao C-Bond, e à transparência no relacionamento do Tesouro com os investidores.

O US$ 1,2 bilhão que sobrou poderá ser retirado do mercado em outubro, quando o Tesouro terá direito de recomprar o papel pelo valor de face. O A-Bond não tem essa cláusula de recompra.