Título: IPCA-15 aponta leve recuo da inflação
Autor: Alessandra Saraiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2005, Economia & Negócios, p. B4

A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) apresentou leve recuo em julho, com alta de 0,11%, ante taxa de 0,12% em junho. Foi o menor resultado desde julho de 2003, influenciado pelas deflações em alimentos (-0,86%) e em combustíveis importantes como álcool (-3,98%) e gasolina (-0,5%). Segundo informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 70% da inflação medida pelo indicador de julho foi referente ao reajuste de telefonia fixa (2,41%). Considerado importante prévia do IPCA (referência para as metas de inflação), o indicador anunciado ontem é calculado com a mesma metodologia, diferindo só no período de coleta. No caso do IPCA-15, os dados são coletados do dia 15 do mês anterior ao dia 15 do mês de referência; já a coleta de dados do IPCA ocorre ao longo dos 30 dias do mês.

Na avaliação do economista João Carlos Gomes, da Fecomércio-RJ, o resultado do IPCA-15 mostra que a tendência da inflação no curto e no médio prazo é de estabilização em um patamar reduzido. Gomes observou que os preços de itens como combustíveis e alimentos estão em patamar baixo desde maio desse ano. O impacto do reajuste de telefonia fixa também tende a ser diluído com o tempo, segundo ele. "Além disso, o câmbio continua com uma valorização absurda", disse, lembrando que a valorização do real tem puxado para baixo os preços de vários produtos cujos preços estão relacionados à cotação do dólar.

Para Gomes, em comparação com o segundo semestre de 2004, o comportamento da inflação nos últimos seis meses de 2005 será bem tranqüilo. "No segundo semestre de 2004, houve o choque da alta das commodities, e os preços dos combustíveis estavam em alta. Nada disso está ocorrendo agora."

Para julho, Gomes aposta que o IPCA fechado deve ficar em torno de 0,25%, sendo a maior parte da taxa de telefonia fixa. Essa previsão é próxima à do economista do banco Modal, Alexandre Póvoa, que estima alta de 0,28% no IPCA desse mês. Póvoa considerou que o desempenho do IPCA-15 mostra que "está claro o processo de desinflação, baseado em uma política monetária apertada e a valorização cambial".

Ao falar sobre juros, Póvoa defendeu a postura do Banco Central em manter a taxa Selic em 19,75%. " Há dois efeitos negativos para juros altos: uma desaceleração econômica bem forte e a valorização cambial intensa ao ponto de prejudicar a balança comercial. E nenhum dos dois está ocorrendo", afirmou.

A posição é contrária ao do economista do Ibmec e ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas. Para ele, o BC decidiu manter o patamar da Selic não por sinal de descontrole de aumento de preços, e sim para tentar atingir o centro da meta inflacionária para esse ano, que é de 5,1%. "Foi uma decisão errada", opinou.