Título: Sayad tem o apoio da Argentina
Autor: Denise Chrispim Marin e Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2005, Economia & Negócios, p. B5

A apenas seis dias da eleição do novo presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o apoio do governo da Argentina ao candidato brasileiro, o economista paulista João Sayad. Recuo do presidente Néstor Kirchner, que pretendia formalizar a candidatura do economista Aldo Ferrer, a decisão deverá consolidar a posição do Mercosul sobre a sucessão de Enrique Iglesias no BID e arrastar outros países sul-americanos. Esse apoio de Buenos Aires, entretanto, terá um preço.

O apoio de Kirchner foi explicitado a Lula em uma conversa telefônica que durou apenas 15 minutos, conforme informou o assessor especial da Presidência sobre Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia.

Ontem, o ministro das Relações Exteriores da Argentina, Rafael Bielsa, confirmou a decisão. Segundo Garcia, a proposta acertada entre Lula e Kirchner - e o preço a ser pago pelo Brasil - será a de que Sayad não se apresente como candidato de um único país, mas do Mercosul. Como presidente do BID, Sayad teria ainda de seguir um programa de apoio da instituição à região, elaborado conjuntamente por Brasília e Buenos Aires.

Para o governo Lula, a vitória de Sayad teria um sabor especial, depois da derrota da candidatura brasileira para a direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) neste ano, marcada pela oposição do Mercosul e dos demais parceiros sul-americanos.

Mas, além de uma pitada revanchista, essa escolha tenderia a reforçar as prioridades da atual política externa na integração física da América do Sul e em programas de combate à fome e à pobreza.

CANDIDATOS

A eleição deverá ocorrer no próximo dia 27 em Washington. Na disputa, além de Sayad, estão outros quatro candidatos - o embaixador da Colômbia nos Estados Unidos, Alberto Moreno; o ministro das Finanças do Peru, Pedro Pablo Kuczynski; o presidente do Banco Central da Nicarágua, Mário Alonso; e o ex-ministro da Fazenda da Venezuela, José Alejandro Rojas.

A escolha argentina por Sayad surgiu depois de de dez dias de conversações de Bielsa com Sayad, Moreno e Rojas. O ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, foi encarregado de conversar com o peruano Kuczynski.

Da lista, o principal rival do ex-ministro do Planejamento e ex-secretário de Finanças da prefeitura de São Paulo seria Moreno, que contaria com o apoio da Casa Branca até agora, porém, os Estados Unidos não se pronunciaram a favor de nenhum dos candidatos.

As candidaturas de Kuczynski e de Rojas, segundo analistas, tenderiam a dividir com o colombiano os votos dos demais países andinos, centro-americanos e caribenhos.

Ontem, o presidente Lula conversou com o seu colega peruano, Alejandro Toledo, sobre essa disputa, e Garcia fez gestões junto ao governo equatoriano. Nas últimas semanas, a campanha foi encampada por vários setores da equipe econômica. O próprio ministro da Fazenda, Antonio Palocci, entrou na briga e tornou-se um dos principais interlocutores com a Argentina.

CAMPANHA

A incumbência de percorrer a maioria dos países latino-americanos coube ao secretário de Assuntos Internacionais do Ministério do Planejamento, José Carlos Rocha Miranda, que ainda vai amarrar os apoios de última hora a Sayad, no início da semana que vem, e acompanhar as votações, ao lado do ministro Paulo Bernardo. O próprio Sayad havia visitado, na semana passada, os países do Mercosul.

O processo de escolha, entretanto, não será nada fácil. Até ontem, o Ministério do Planejamento mantinha sob sigilo quantos votos teria coletado em favor de Sayad. A precaução se deve às regras sinuosas da eleição. O vencedor deverá obter o apoio relativo a mais de 50% do capital acionário dos 47 países que compõem o BID. Deste universo, terá de garantir o apoio de 15 dos 28 países das Américas associados aos organismo.

Os Estados Unidos, que contam com 30% do capital acionário, tenderiam a votar no candidato colombiano. Mas podem vir a abster-se em um turno de votações, o que ajudaria Sayad. Brasil e Argentina contam com 10,7% cada. O México, que deverá votar no peruano, responde por 6,7% do capital do BID.