Título: China descarta yuan mais valorizado
Autor: Paulo Vicentini e Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2005, Economia & Negócios, p. B6

Apesar das pressões internacionais e das expectativas do mercado, autoridades chinesas descartaram ontem que o yuan se valorize ainda mais. Segundo o vice-primeiro-ministro, Zeng Peiyang, a China manterá o novo mecanismo cambial enquanto for necessário. "Manteremos o mecanismo flutuante de acordo com as necessidades do mercado chinês." Zeng disse que a decisão de valorizar o yuan e desvinculá-lo do dólar, tomada na quinta-feira, responde ao desejo de Pequim de "melhorar o mecanismo de internacionalização da moeda e impulsionar as reformas, mantendo a estabilidade". Ele negou que as pressões americanas tenham sido o motivo. Muitos países pressionam para que haja mais a valorização.

Segundo a agência oficial de notícias Xinhua, Pequim "ajustará a faixa de oscilação quando considerar oportuno, de acordo com as condições de desenvolvimento do mercado e as situações econômica e financeira".

A imprensa chinesa descartou a possibilidade de mais mudanças. "As expectativas de uma maior valorização do yuan eram, são e serão irrealistas", afirma em editorial o China Daily, muito ligado ao governo.

Essas declarações diminuíram as esperanças dos mercados sobre novas valorizações.

Ontem, o yuan fechou o dia sendo cotado a 8,1111 por dólar, quase a mesma cotação fixada na véspera: 8,1100 por dólar. Antes da mudança cambial, a moeda estava fixa em 8,277 por dólar. O mercado prevê que ela chegue a 7,64 por dólar.

COMÉRCIO EXTERIOR

O maior temor dos economistas chineses - o abalo nas exportações - foi descartado pelo vice-presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas do Ministério do Comércio, Shen Dang Yang. "A apreciação foi modesta e não deve afetar nossas exportações no segundo semestre." Segundo Shen, os primeiros impactos da flexibilização do yuan afetarão mais o cotidiano das empresas do que as suas exportações. "Há quase uma década operamos com uma previsibilidade cambial. Todos terão que mudar seus procedimentos em relação aos novos contratos."

Apesar da promessa da manutenção de uma "relativa estabilidade" do yuan por parte do governo, Shen recomendou ao setor exportador que adote "seguros contra novas variações, a fim de evitar eventuais riscos".

Já o professor da Universidade do Povo de Pequim, Zhao Xi Jun, acredita que não houve uma efetiva valorização do yuan. "As medidas apenas relaxaram um pouco o câmbio. A flexibilização real virá após a certeza de que as medidas não abalarão profundamente a economia."

Zhao também descartou um aumento imediato nas importações chinesas. "O relaxamento cambial ainda é insuficiente para isso." Porém, ele prevê que a gradual flexibilização do yuan poderá, no médio prazo, "abrir uma série de oportunidades para os demais países".

Para Daniel Rosen, professor da Universidade Columbia especialista em China, essa valorização não é suficiente para afetar o comércio internacional no curto prazo. "A maioria dos exportadores chineses vai simplesmente absorver a diferença de custos", diz Rosen. "E, de qualquer maneira, 70% do valor dos produtos exportados pela China vêm de insumos importados, então os custos dos exportadores chineses também vai cair."