Título: Amorim diz que desconhece barreiras à exportação argentina
Autor: Marina Guimarães
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2005, Economia & Negócios, p. B7

O chanceler brasileiro Celso Amorim afirmou não ter conhecimento de um comunicado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao colega argentino, Néstor Kirchner, de que o Brasil vai impor barreiras contra arroz, vinho e misturas de farinha de trigo da Argentina, já a partir de 1.º de agosto próximo. A notícia foi veiculada pelo jornal Clarín, ontem. "Tudo indica que a partir de 1º de agosto o Brasil estabelecerá freios às vendas argentinas", afirma o jornal. "E as barreiras podem ser ampliadas. O ministro Luiz Fernando Furlan informou que existem três dezenas de setores que o Brasil pretende proteger, entre eles roupas de lã, calçados e vestimentas, jogos e armações de óculos."

Ainda conforme o Clarín, o pedido de salvaguardas por parte dos empresários brasileiros demonstra que o País não é tão competitivo. "Os empresários brasileiros pedem que o governo imponha barreiras contra a Argentina exatamente aquilo que até agora os diplomatas brasileiros recusaram à Argentina", diz a matéria, acrescentando que a taxação será de 10% a 22% sobre o arroz e o vinho e de 15% para as farinhas. Essas taxas, diz o jornal, teriam de ser pagas à vista e os fabricantes argentinos ficariam impossibilitados de financiar suas vendas aos importadores brasileiros por um período de um ano, como ocorre atualmente.

O governo argentino, por sua vez, afirma não ter recebido nenhum comunicado oficial sobre as medidas. Para o subsecretário de Integração Econômica Latino-americana da chancelaria argentina, embaixador Eduardo Sigal, "dificilmente o Brasil adotaria semelhante medida antes da reunião do comitê de monitoramento do comércio bilateral, prevista para a primeira semana de agosto".

ENCONTRO

Amorim desembarcou ontem em Buenos Aires e está na cidade de Pilar, a 50 quilômetros da capital argentina, para participar da reunião ministerial do Grupo Rio. O encontro é preparatório para a cúpula dos 19 presidentes da América Central e América Latina, a ser realizada em agosto, em Bariloche. Além disso, o chanceler brasileiro tem reunião marcada com o colega argentino Rafael Bielsa.

Os chanceleres discutiriam o apoio da Argentina à candidatura brasileira para a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento e a disputa final entre a Argentina e o Brasil pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Há indícios de que a Argentina não vai apoiar as candidaturas brasileiras.

Por enquanto, Amorim mantém a tranqüilidade. Ontem, ao desembarcar, ele não quis falar sobre a decisão do governo argentino de acabar com as licenças automáticas para a importação de calçados brasileiros, dentro de 15 dias, o que prejudicaria as exportações do Brasil para o mercado local. O chanceler até brincou, dizendo estar calçando um sapato comprado na Argentina "para equilibrar o comércio".