Título: Policial atribui a morto saque de R$ 600 mil
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2005, Nacional, p. A4

Luiz Carlos Costa Lara, detetive da Polícia Civil de Minas que aparece como um dos maiores sacadores do esquema do mensalão, atribuiu a um morto o resgate de R$ 600 mil no Rural em Belo Horizonte. Lara disse que recebeu R$ 150 para executar uma série de 3 saques na boca do caixa. Afirmou que "não sabe a origem e o destino" do dinheiro que apanhou no banco apontado como caixa do esquema de mesada no Congresso. O morto, segundo o policial, chamava-se Marcio Ricardo Vaz, taxista que faleceu em dezembro. Os dois "eram amigos", afirmou Lara à Corregedoria da Polícia. Há cerca de 2 anos, o motorista de praça o teria procurado para dizer que havia sido contratado "para fazer transporte de certas quantias em espécie". O taxista convidou o policial para escoltá-lo pois temia "ser alvo de roubo".

Lara é o segundo policial mineiro envolvido com os saques milionários. No início da semana, David Rodrigues Alves, também detetive, declarou ter sido contratado por Cristiano Paz, sócio de Marcos Valério Fernandes de Souza - ao qual conferem o título de condutor do mensalão - para sacar quantias de até R$ 100 mil. Alves disse que entregava o dinheiro na agência de publicidade SMPB, da qual Valério é sócio.

Há 18 anos na polícia de Minas, Lara trabalha na Divisão de Crimes contra o Patrimônio. A CPI dos Correios apurou que foram dois os saques de Lara, cada um de R$ 300 mil. O primeiro resgate foi em 28 de abril de 2003. O outro, dois dias depois. O detetive jogou sobre o taxista morto a responsabilidade sobre as operações na boca do caixa da agência Rural localizada à Avenida Olegário Maciel, na capital mineira. Ele diz que "não se lembra" nem mesmo do nome do tesoureiro que lhe entregou a verba.

A primeira missão, na versão de Lara, foi assim: "O Marcio Vaz estacionou o carro em frente à agência, descemos, fomos até o balcão ao lado dos caixas e ele chamou pelo tesoureiro a quem entregou um cheque a uma carta. O tesoureiro pegou dois envelopes pardos com a importância." Lara disse que assinou um documento no banco. "O valor não foi conferido e fomos até um edifício na Rua Inconfidentes", relatou. Nesse endereço fica a SMPB, agência de Marcos Valério.

Em outra ocasião ele teria sido apanhado pelo taxista na unidade policial onde trabalha. Depois, numa terceira incursão ao Rural, um motoboy também o teria acompanhado, encarregando-se de ir ao caixa. "O Marcio me pagou R$ 50 por serviço", declarou Lara.

O detetive sacador afirmou que "não conhece" nenhum protagonista do mensalão. O delegado corregedor Luiz Carlos Ferreira perguntou a ele sobre Cristiano Paz, Marcos Valério e Simone Vasconcelos - influente diretora financeira da SMPB, apontada como a rainha dos saques, totalizando R$ 6,14 milhões. "Não conheço", reafirmou.