Título: Com medo de bloqueio, Valério corre e esvazia contas bancárias
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2005, Nacional, p. A4

Acostumado a lidar com milhões, o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza está virando um homem de centavos. Pelo menos no papel. A CPI dos Correios descobriu que Valério, acusado de operar o mensalão, começou a tirar dinheiro de suas contas. Numa análise preliminar, os técnicos da comissão, que se debruçam sobre as toneladas de documentos do sigilo bancário do empresário no Banco do Brasil, perceberam que sobrou pouco dinheiro nas contas dele. No BB, Valério tem hoje em seu nome exatos 72 centavos. A DNA, uma das maiores empresas do publicitário, tem cerca de R$ 300 mil na conta. Há três semanas, tinha, aproximadamente, R$ 9 milhões. A CPI desconfia que Valério está tentando proteger seus recursos com receio de um iminente bloqueio de suas contas. Os técnicos da CPI querem agora analisar quanto ele tinha exatamente em suas contas e para onde esse dinheiro está seguindo. Na semana passada, a mulher do publicitário, Renilda Santiago, tentou sacar R$ 1,89 milhão na agência do BankBoston em Belo horizonte. Avisada pelo Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf), a Procuradoria-Geral da República conseguiu que o Supremo Tribunal Federal (STF) bloqueasse as contas dela. Por causa disso, R$ 1,1 milhão de Renilda aplicados no BB continuam intactos.

Outra empresa de Valério que está com a conta zerada no BB é a Graffiti Participações Ltda. A CPI ainda não levantou qual era o saldo anterior da conta, mas dedica especial atenção às movimentações da empresa. A Graffiti funcionava com uma holding e detinha participação acionária em várias empresas de Valério. A CPI já trabalha com informações de que ele utilizava a Graffiti para "esquentar" dinheiro de clientes e políticos aliados.

Das contas que a CPI já conseguiu analisar, a que Valério mais "limpou" foi a da DNA. Responsável por contratos de publicidade com o próprio Banco do Brasil, com o Ministério do Trabalho e com a Eletronorte, a DNA tinha R$ 4 milhões na conta corrente e mais quatro investimentos no BB. Somadas, essas aplicações se aproximavam dos R$ 5 milhões. Restaram R$ 300 mil na conta corrente, segundo a CPI.

Na semana passada, a Polícia Federal já havia apreendido em Belo Horizonte notas fiscais frias da DNA. Uma das próximas tarefas dos assessores da comissão será cruzar as transferências bancárias das contas da DNA com os beneficiários das notas fiscais apreendidas.

Assim, a CPI poderá descobrir quais eram os fornecedores da agência que realmente prestaram serviços e quais eram laranjas do empresário. "Temos de separar o joio do trigo", explica um dos técnicos da CPI.

"A CPI precisa urgentemente bloquear todas contas e bens de pessoas ligadas a essa figura", defende o deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR). "Está claro que ele está começando a esconder seu dinheiro."